Mais um suspiro em frente a tela em branco transparecia o quanto aquilo havia se tornando um sacrifício sem que ela tivesse percebido. Já havia visto lido em várias postagens no Pinterest que geralmente se passa mais tempo pensando em escrever um livro do que escrevendo de fato, mas às vezes os motivos que levavam àquela procrastinação eram uma tortura.
Entretanto, não adiantava tentar buscar soluções na internet, pois todos os lugares onde havia lido sobre essa resistência em fazer algo falava sobre o perfeccionismo, e a escritora tinha ciência de que não era o seu caso. Sim, ela aceitava com tranquilidade que seus texto não eram perfeitos e precisavam sempre de muita revisão, mas via cada um como o melhor que poderia fazer naquele momento, então acreditava que todos eram bons o suficiente.
— Você precisa de um café — disse a voz em sua mente.
— Agora não — respondeu ela.
— Agora sim, vamos — continuou a voz insistente.
— Não quero — ela continuava olhando para a tela.
— Claro que você quer.
— E quem te deixou petulante desse jeito?
— Você. — Ela não via um rosto, mas sabia que ele estava sorrindo.
O drama da escritora
O começo de um sonho
Annabelle jogou a cabeça para trás e mexeu o pescoço de um lado para o outro assim que terminou de recolher a louça suja deixada na mesa pelas duas clientes que haviam acabado de sair do Art's Café.
— Cansada? — perguntou Felipe que trabalhava como caixa no café de seu pai, Arthur.
— Com calor… — respondeu a funcionária que usava um avental bege de sarja lisa com detalhes estampados nas cores vermelho e verde na barra, perto do pescoço, em volta de um único bolso e da fita para amarrar na cintura. Sobre esse bolso, ainda havia um Papai Noel bordado em patch aplique e ponto caseado. Ela tirou a bandana, da mesma estampa dos detalhes coloridos, já um pouco úmida na região das orelhas.
— Vou diminuir mais um pouco a temperatura do ar-condicionado — avisou o homem pegando o controle remoto branco. Como não estava atendendo as mesas naquele dia, ele usava suas roupas comuns, jeans e camiseta azul de mangas curtas com estampa remetendo a um filme de fantasia.
A mulher sorriu para o amigo em agradecimento.
Amizade pra vida toda
Quem acredita em Papai Noel?
“Estou no café.”
“Venha imediatamente, se for conveniente.”
“Se for inconveniente, venha assim mesmo.”
Annabelle riu ao ver as três frases em seu aplicativo de mensagens enviadas por seu amigo, e colega de trabalho, Felipe. Eles haviam assistido as quatro temporadas da série Sherlock da BBC na última semana, e se tornarem fãs foi automático. O plano dos dois era comprar os livros com as histórias do detetive e ler todas. Reler, no caso de Annabelle, que já havia tido contato com as histórias quando criança.
“Chego em 15 minutos 😂👍”
Foi a resposta dela apesar de não conseguir prever pela mensagem o que o amigo queria. Entretanto, como não tinha planos para o dia de folga, ela decidiu aceitar o convite e deixar para descobrir por que sua presença estava sendo requisitada quando chegasse ao café.
Praga (Final)
Praga
O hotel onde eles estavam era perto da entrada da cidade, por isso era o lugar mais próximo para onde eles poderiam ir.
— Você tem certeza que não quer ir para um hospital Jay? Sabe lá o que isso fez com você — sugeriu Daniel desligando o motor.
— Relaxe, eu já estou bem — respondeu Jared saindo do carro.
— Vou até a recepção pegar a chave do quarto — Anna avisou depois que desceu.
— Algum problema se eu te esperar perto da porta do quarto? — Jared perguntou.
— Nenhum — Anna sorriu para ele se afastando.
Lucy Anne descia do SUV quando o som de pneus derrapando tomou conta do estacionamento. Depois se ouviu a porta de um carro sendo batida. Ela contornou o carro e ficou ao lado de Daniel que acabara de sair e estava fechando a porta.
Praga (Parte 6)
Praga
Quando o carro saiu da cidade e ingressou em uma área mais rural, as casas deram lugar a extensos e verdes campos, mas a paisagem estava longe de ser bonita. Bois, porcos e outros animais de fazenda estavam caídos por toda pastagem com enormes feridas vermelhas sobre seus corpos. Alguns fazendeiros andavam por entre os animais sem entender o que estava acontecendo.
Anna abriu o porta-luvas e tirou lá de dentro uma caneta e um bloco de folhas brancas. Ela escreveu uma lista de palavras. Jared tentava ver do que se tratava enquanto dirigia. Quando terminou, Anna se colocou de lado no banco para poder olhar também para Daniel e Lucy no banco de trás.
— Água em sangue, sapos, piolhos, moscas, peste no gado, úlceras nos homens, pedras caindo dos céus, gafanhotos, escuridão e a morte dos primogênitos — essas são as pragas que caíram sobre o Egito. Se tudo continuar como está irão cair aqui também.
Praga (Parte 5)
Praga
(Parte 05 de 07)
— Parece que nós ficamos sem quarto essa noite... — Jared comentou quando chegaram de volta ao hotel depois de saírem do pub.
— Eu é que não vou entrar para atrapalhar — Anna sorriu. — Você está com a chave do carro.
Jared verificou nos bolsos — estamos com sorte. — Ele tirou o alarme da SUV. Anna abriu a porta do lado do carona, e entrou. Jared entrou do lado do motorista.
Eles chegaram os bancos para trás para ter espaço para as pernas e deixaram os vidros fechados por causa do frio.
Jared ligou o rádio. Um rock dos clássicos começou a tocar em volume baixo.
Depois de um tempo ele quebrou o silêncio — acho que eu te devo uma explicação, não é?
— Sobre o que?
— Meu comportamento em relação ao Daniel com a Lucy.
Anna se virou no banco para ficar de frente para Jared. Ele tirou o blazer e jogou no banco de trás. Depois também se recostou de frente para Anna.
Praga (Parte 4)
Praga
(Parte 04 de 07)
No horário marcado, Lucy Anne bateu à porta do quarto onde os três estavam. Ela usava um vestido xadrez vermelho e preto, um casaco de couro por cima do vestido e scarpins pretos. Como Anna e os irmãos já estavam prontos, eles foram para o lugar combinado. Decidiram ir andando, pois o pub era bem perto e a noite estava agradabilíssima.
— A Anna e o Jared te contaram sobre o que encontraram na biblioteca? — ela perguntou para Daniel, que seguia ao seu lado usando uma malha azul com uma camisa social branca por baixo combinando com calças jeans e tênis.
— Não. Eles mencionaram, mas eu quis esperar pra vermos juntos — ele respondeu sorrindo para Lucy e a abraçando.
Anna percebeu Jared enrijecer o punho dentro do bolso do casaco de lã que usava sobre uma camisa azul com listras brancas. Ela se aproximou dele e entrelaçou o braço dela com o do amigo. Jared relaxou um pouco.
Praga (Parte 3)
— Jared, — Anna o chamou afastando o lençol que eles tinham ajeitado entre as camas para dividir o quarto. — Jared! — ela falou mais alto. — Por tudo que é mais sagrado... Não dá pra dormir com o barulho dessa caminha de molas!
Jared parou e olhou para Anna na penumbra. Ela usava uma camisola rosa de com um personagem de desenho animado estampado na frente e mangas curtas com um shortinho por baixo.
— Sobe pra cá. Podemos dividir a cama de casal. Mas traga seu travesseiro e cobertor. Não vamos dividir isso.
Praga (Parte 2)
Praga
(Parte 02 de 07)
Não chegou a levar o tempo todo que Jared havia imaginado. Com o trânsito bem livre, duas horas e trinta minutos depois de terem saído, eles chegaram à Ancient Meadows. Era uma cidade pequena, aparentemente pacata. Muito provavelmente se não fosse a universidade, a cidade se resumiria a poucas casas e vário moradores espalhados pelas propriedades rurais.
— Por onde começamos?
— Vou parar o carro e ligar para meu irmão.
Anna ficou observando a cidade pela janela enquanto Jared falava com o irmão.
— Ele me explicou como chegar ao hotel onde ele está.
Jared dirigiu para lá.
— Daniel! — ele anunciou descendo do carro após estacioná-lo e indo abraçar o irmão que o esperava.
— Jared — Daniel retribuiu o abraço.
— Essa é Anna. Trabalha com a gente no café. Ela veio ajudar.
Anna e Daniel trocaram um aperto de mãos.
Praga (Parte 1)
Atualização (01/06/2022): Mais uma história que começou como fanfic (da série Sobrenatural) e eu resolvi transformar em autoral para poder publicar aqui no blog. Agora, Praga (ainda não tenho certeza se vou manter esse nome), vai passar por mais uma modificação.
Os personagens presentes nela estão também no conto: Escuridão, e fazem parte do meu projeto de ambientar várias das minhas histórias no Brasil (para isso nomes de pessoas e lugares irão mudar, assim como a descrição de ambientes e eventos).
Escuridão já completa e disponível de graça está no Wattpad (comece a ler) e, assim que eu revisar essa história, pretendo publicar por lá também e quem sabe em outras plataformas. Já passou da hora das minhas histórias autorais ganharem o mundo!
No entanto, para conseguir analisar a evolução da minha escrita, decidi manter as versões originais aqui no blog enquanto publicarei as revisadas em outras plataformas.
Escuridão (Final)
Escuridão
Quando Anna recobrou os sentidos percebeu que não conseguia se mexer. Ela estava deitada em um corredor estreito de uma casa com paredes e chão de madeira e tinha as mãos e pés amarrados. Jared estava a uma pequena distância que ela venceu se arrastando e o alívio foi grande ao perceber que o amigo estava vivo, porém seu estado havia piorado. Ele estava muito mais quente e transpirava bastante. Uma porta se abriu e passos foram ouvidos ficando cada vez mais perto. O homem que estava segurando Jared pelo pescoço estava de volta.
— Charles, — arriscou Anna que se lembrava do nome masculino pronunciado pela mulher. — Porque vocês estão fazendo isso com a gente?
Escuridão (Parte 02)
(Parte 02 de 03)
Já era de madrugada quando Anna acordou assustada com um barulho. Ela abriu os olhos, mas não conseguia enxergar nada, pois as velas haviam se queimado completamente e o quarto estava imerso na mais densa escuridão. Seu coração começou a bater mais forte.
— Jay — ela chamou aflita.