Praga
O hotel onde eles estavam era perto da entrada da cidade, por isso era o lugar mais próximo para onde eles poderiam ir.
— Você tem certeza que não quer ir para um hospital Jay? Sabe lá o que isso fez com você — sugeriu Daniel desligando o motor.
— Relaxe, eu já estou bem — respondeu Jared saindo do carro.
— Vou até a recepção pegar a chave do quarto — Anna avisou depois que desceu.
— Algum problema se eu te esperar perto da porta do quarto? — Jared perguntou.
— Nenhum — Anna sorriu para ele se afastando.
Lucy Anne descia do SUV quando o som de pneus derrapando tomou conta do estacionamento. Depois se ouviu a porta de um carro sendo batida. Ela contornou o carro e ficou ao lado de Daniel que acabara de sair e estava fechando a porta.
— Você está bem? — perguntou um rapaz alto e forte chegando perto dela
— Eddie... — ela ficou surpresa ao ver o ex-namorado.
— Minha mãe é quem está por trás disso tudo! Ela está fora de controle.
Anna, que voltava da recepção com uma chave, foi para perto de Jared que prestava atenção na conversa de Lucy Anne e o irmão com o estranho que havia se aproximado.
— Só porque eu disse que estava pensando em mudar de cidade ela cismou que é por sua causa, por causa do que aconteceu. Mas não é! — Eddie explicou. — Viver no interior já deu. Quero ampliar meus horizontes...
Ele foi interrompido pelo barulho de outro carro que chegava ao local. Era uma pickup vermelha e Lourdes a dirigia. Ela desceu do carro gritando.
— Vocês destruíram minha fazenda!
Eddie andou em direção a ela — você estava destruindo a cidade mãe!
— Eddie, até você contra mim? Eu estava defendendo seus interesses, filho.
Com a movimentação e os gritos, aos poucos as pessoas começaram a se juntar no estacionamento para descobrir o que acontecia.
— Vocês podem ter conseguido destruir meus planos de me vingar dessa cidade! Mas isso não vai ficar assim! — Lourdes estava transtornada e Eddie teve que segurar a mãe para evitar que ela avançasse sobre Lucy Anne e Daniel. Mas essa tarefa estava cada vez mais difícil.
— Não fui eu quem começou tudo isso — Lucy Anne finalmente falou — se seu filho não tivesse feito o que fez...
— Lucy, melhor não — Daniel a abraçou delicadamente.
Para Lourdes aquela demonstração de afeto foi a gota d’água.
— Sua sem vergonha! Pôs a cidade toda contra meu filho quando a depravada é você! — ela conseguiu se desvencilhar dos braços do filho, mas não avançou sobre os dois. Ao invés disso, seguiu para o carro. Eddie se sentiu aliviado por ver a mãe se afastando, mas ela não estava desistindo. Ele não sabia, mas ela guardava uma arma no porta-luvas do carro.
— Você não vai trocar meu filho por esse idiota! — ela apontou a arma para Daniel.
Tudo aconteceu em uma fração de segundo. Lourdes passou por Eddie que não teve tempo de segurá-la e se aproximou de Daniel e Lucy Anne. Os dois olharam para ela ao mesmo tempo em que Jared e Anna, que estavam mais distantes perceberam o que estava acontecendo. Eles ouviram um clique vindo da arma. Eddie começou a correr em direção à mãe. O barulho que ouviram em seguida foi muito mais alto.
— Daniel! — Jared gritou correndo em direção ao irmão. Anna correu atrás dele e só depois que contornaram o carro, eles puderam ver o que havia acontecido.
— Mãe! Olha o que você fez! — Eddie gritou e avançou sobre a mãe na tentativa de tomar a arma das mãos dela. Os dois entraram em uma disputa pela posse.
— Daniel... — Anna se aproximou e se abaixou em frente a ele. — Me deixa ver como a Lucy está.
Ele estava sentado no chão, atônito, encostado no carro enquanto tinha Lucy Anne sobre seu colo. Quando Lourdes atirou na direção de Daniel, Lucy Anne foi mais rápida e se jogou com toda força sobre ele que caiu no chão ficando a salvo. Ela, no entanto, não conseguiu se desvencilhar e o projétil atravessou seu peito perigosamente próximo ao coração.
— Jay, já ligou para emergência? — Anna perguntou calmamente.
Ele tirou o celular do bolso e discou.
— Lucy, — preciso cortar a alça do seu vestido pra ver como está isso.
Ela acenou timidamente com a cabeça. Por sorte não tinha ficado inconsciente.
Anna pegou a chave do SUV e abriu o porta-malas. De dentro de uma mochila cheia de ferramentas ela tirou uma tesoura. Ela voltou a se ajoelhar ao lado de Lucy Anne e depois que cortou o vestido pode ver o ferimento. A bala não tinha atravessado seu corpo por completo. Um pequeno caroço nas costas revelava que a bala ainda estava alojada ali.
— Precisamos fazer pressão...
Anna foi interrompida por outro barulho de tiro que chamou a atenção de todos trazendo o caos ao local. Muitos dos que haviam se juntado para ver o que acontecia se assustaram e correram. Um grito visceral pode ser ouvido, mas apenas quando a maioria das pessoas se afastou eles puderam ver o que havia acontecido. Lourdes estava chorando sobre o corpo do filho.
Daniel segurou o rosto de Lucy Anne para que ela não olhasse. Jared ficou estático olhando a cena. Anna sentiu que precisava fazer alguma coisa.
— Daniel, me dê suas mãos — ela pegou as mãos do amigo, colocou uma sobre a outra e depois colocou sobre o buraco de entrada da bala no peito de Lucy Anne. — Pressione o ferimento com força. Não tire suas mãos daí.
Ela se levantou e andou em direção a Eddie e Lourdes.
— Senhora, eu sou médica. O socorro já está chegando. Posso ver como seu filho está?
Lourdes chegou para trás sem demonstrar resistência. Ela ficou sentada no chão sem olhar para nenhum lugar específico. Certamente em estado de choque.
Anna queria poder fazer alguma coisa, mas o tiro que Eddie levara tinha sido pior do que o de Lucy Anne. Enquanto brigava com a mãe pela arma, ela havia disparado e o tiro havia entrado por baixo do queixo do rapaz e atravessado sua cabeça. Como não podia fazer nada por ele, Anna se aproximou de Lourdes. A pulsação dela estava fraca e ela estava prestes a desmaiar quando enfim a sirene de uma ambulância pode ser ouvida ao longe.
No dia seguinte
— Podemos entrar? — perguntou Jared depois de bater suavemente na porta do quarto do hospital em que Lucy Anne estava.
— Demoramos um pouco mais porque fui levar esse menino pra fazer uns exames. Coisa básica, só pra ficarmos tranquilos — disse Anna que vinha atrás dele.
— E está tudo bem? — Daniel perguntou.
— Claro Dan! Falei que não tinha nada errado comigo.
Anna sorriu e deu dois tapinhas de leve nas costas do amigo. Ela se aproximou da cama de Lucy Anne — como você está?
— Está doendo um pouco, mas bem menos — ela respondeu com a voz fraca.
Anna olhou os recipientes com soro e medicação intravenosa que estavam pendurados sobre a cama e fluíam para o corpo de Lucy Anne — isso vai ajudar a melhorar.
— Eles marcaram a cirurgia pra tirar a bala amanhã pela manhã — ela suspirou. — O que aconteceu com Eddie? — ela quis saber.
Os três ficaram em silêncio. Anna balançou a cabeça em negativa. Lucy Anne ficou em silêncio.
— E a mãe dele? — Daniel, que havia ido para o hospital junto com a amiga, também não sabia o que aconteceu no estacionamento depois que eles partiram.
— Ela ficou em estado de choque. A polícia a prendeu, mas parece que ela está em uma ala psiquiátrica aqui no hospital — Jared respondeu.
— Que Deus tenha piedade dela — disse Lucy Anne.
Os três concordaram com um aceno de cabeça.
— Bom, precisamos pegar a estrada — disse Jared — senão não vamos conseguir chegar à Nova Iorque antes do anoitecer.
— Você vai dirigindo? — perguntou Daniel.
— Pode deixar. Eu estarei ao lado dele — Anna argumentou — tomarei conta dele e se for preciso eu assumo.
— Obrigado. Fico mais tranquilo — ele respondeu.
— Então. A gente se vê em Nova Iorque? — perguntou Jared abraçando o irmão.
— Sim. E pode dizer para o papai ficar tranquilo que eu não vou largar a faculdade.
— Eu sei — Jared deu um risinho para o irmão.
Daniel ficou sério, mas depois sorriu de volta.
Anna também se despediu dele com um abraço e depois ela e Jared se despediram de Lucy Anne. Os dois saíram do hospital. Passaram no hotel para pegar suas coisas, porém sem encerrar a conta já que as coisas de Daniel ainda estavam ali e talvez ele ainda utilizasse o quarto por mais alguns dias já que o hotel era bem mais perto do hospital do que os alojamentos da faculdade.
(...)
A viagem de volta levou quase três horas. Ao contrário de quando
eles foram para Ancient Meadows, agora a estrada estava cheia e eles
disputavam espaço com enormes caminhões. Jared estava apreensivo. Com o para—brisa
trincado durante a chuva de pedra e a traseira do carro amassada pelas batidas
durante a perseguição de Lourdes ele temia a reação que seu pai poderia ter.
Ele seguiu direto para o café, pois sabia que o pai deveria estar lá. Segunda-feira
era dia de movimento, apesar de que, no meio da tarde, já não havia tanta gente
por ali. Jared entrou seguido por Anna. Arthur estava sentado de frente para
uma das mesas com o notebook ligado.
— Pai, — Jared chamou a atenção dele.
A reação de Arthur foi uma surpresa para ele e a amiga. Ele se levantou e abraçou o filho com força. Depois abraçou Anna.
— Estava preocupado com vocês! E seu irmão? Não veio com vocês?
— Não pai. Ele ficou. Está tudo resolvido — Jared explicou.
— Eu li o que aconteceu lá — Arthur mostrou um site de notícias guardado nos favoritos do navegador no seu notebook.
Havia uma matéria falando sobre os acontecimentos em Ancient Meadows. A água que se transformou em sangue nos chuveiros do banheiro feminino, os sapos, moscas, gafanhotos, a chuva de pedras e os outros acontecimentos. Apesar de extenso, o artigo não trazia o nome de ninguém que poderia estar por trás e tudo. O jornalista apenas havia tratado o fenômeno como uma estranha passagem das pragas do Egito sobre a cidade. Não havia na matéria nada relacionado a eles, Eddie e sua mãe, ou a fazenda queimada. Anna e Jared preferiram não entrar em detalhes nessas coisas já que não haviam sido mencionadas.
— Bom, nem todos saíram ilesos — Jared disse se virando de frente para o pai depois que terminou de ler.
Arthur olhou assustado para ele. Jared abriu um espaço entre as abas da persiana horizontal na janela do café para que o pai pudesse ver o estado que o carro estava.
Arthur respirou fundo — dos males o menor. — Ele sorriu.
Jared se sentiu aliviado.
— Um bom mecânico resolve isso fácil — Arthur deu um tapinha no ombro do filho e se afastou dos dois.
Anna ainda estava de frente para o computador.
— Olha isso — ela havia descido a página na internet até o rodapé.
Havia um pequeno artigo falando da briga no estacionamento do hotel que terminou com a morte de Eddie e a prisão da mãe dele. O artigo ainda ressaltava o revés da família que no mesmo dia teve sua fazenda reduzida às cinzas.
— Fala alguma coisa sobre a gente?
— Não encontrei nada. Só fala da Lucy Anne ferida, mas nada sobre o Dan ou a gente.
— Melhor assim. Depois ligo pra ele e peço para não contar a estória toda para o papai. Vai preocupar ele à toa. Afinal, com o Eddie morto e a mãe dele presa acho que nunca mais teremos problemas com eles.
— Você tem razão — Anna concordou.
(...)
— Lucy, eu preciso ir. Já está ficando tarde e eu não posso passar
a noite aqui com você — disse Daniel se aproximando da cama.
— Vou sentir saudades — ela respondeu.
— Amanhã bem cedo vou estar aqui. Antes de você ir para a cirurgia.
Ela sorriu.
Lucy Anne levantou a mão direita e acariciou os cabelos de Daniel. Ele se debruçou sobre ela e deu um beijo em sua testa. A garota o segurou por trás do pescoço e o puxou até que os lábios dele se encontrassem com os seus. Não foi um beijo demorado, mas os dois souberam aproveitar o momento. Quando se afastaram eles estavam sorrindo.
— A gente se vê amanhã — Daniel acariciou o rosto de Lucy Anne.
Ela beijou a palma da mão dele — até amanhã.
Daniel se afastou em direção à porta.
Assim que ele saiu do quarto, uma luz muito forte iluminou todo o seu interior. Lucy Anne sorriu — por onde você esteve? — Ela perguntou.
— Eu precisava ficar longe irmãzinha... Pra você usar suas próprias forças — o espírito da irmã de Lucy Anne estava aos pés da cama — mas eu não fui muito longe. Estava o tempo todo com você.
Lucy Anne sorriu — você vai ter que partir pra sempre, Mary Anne?
— Um dia talvez. Mas estarei sempre tomando conta de você — ela sorriu.
Mary Anne se aproximou da irmã — agora preciso ir. Não se preocupe com a cirurgia. Vai correr tudo bem.
Lucy Anne sorriu.
— Quando nos veremos de novo?
— No campus. Na área reservada da biblioteca, como sempre.
— Até lá então — Lucy Anne sorriu para a irmã.
Mary Anne sorriu e o quarto foi ficando mais escuro até ser iluminado apenas pela luz de um abajur que havia sobre a cama. Lucy Anne se virou na cama e recostou a cabeça no travesseiro. Enquanto pensava em tudo o que havia acontecido no final de semana, ela adormeceu.
Essa é uma história de ficção. Qualquer semelhança entre os acontecimentos aqui registrados assim como nomes utilizados e a realidade é mera coincidência.
Muito legal!! Adorei o conto xD
ResponderExcluirOi Luene!! ^^
ExcluirFico feliz que tenha gostado!!
Não deixe de ler também: My Best Part Is You.
Segunda parte aqui no blog terça-feira (11/06/2013)
Beijussss;