O soldado ferido
Sangue inocente
— Não precisa me esperar acordada — disse João, o lobisomem, enquanto se livrava das roupas antes da transformação.
Como havia uma floresta bastante densa a poucos metros do quintal dos fundos, não precisava mais passar da forma humana para lobo vestido. Isso poupava seu guarda-roupa da necessidade de reparos constantes.
— Ah, meu sacrifício de toda lua cheia… — reclamou Catarina. — Vou começar a esperar dentro de casa até que você esteja com o corpo todo coberto de pelos e a aparência de um lobo gigante.
— Eu sei que você gosta de apreciar esse corpinho atlético. — João fez uma pose com os braços como se fosse um fisiculturista sendo julgado.
— Pelo amor da nossa amizade, vai pra luz, por favor! — A bruxa havia fechado os olhos durante o exibicionismo do amigo, mas não conseguia segurar o riso.
Profecia na garrafa
Zephyrus já estava ficando cansada com tantas fichas de cadastro que o namorado, John, preenchia. Ele queria a todo custo encontrar uma maneira de custear o curso de medicina na Kings College London sem depender dos pais. A jovem chegou a oferecer ajuda financeira e até comentou que ele poderia devolver o dinheiro quando estivesse formado e empregado como médico se quisesse, mas John estava atrás de sua total independência. Um empréstimo não era o que tinha em mente, mesmo sabendo que as posses da família da namorada eram suficientes para pagar todas as taxas obrigatórias e os extras que desejasse.
— Você tá chateada? — perguntou ele sem tirar os olhos do papel que preenchia.
— Por que estaria? — Ela olhava para as folhas sobre a mesa completamente entediada.
— Por eu não aceitar sua oferta. — John finalmente a encarou.
Confidências
Cada um tem sua preferência quando o assunto é aproveitar o final de semana. Uns gostam de sair, outros de ficar em casa, mas é quase uma unanimidade a opção de ficar bem longe do trabalho. No entanto, Beatrice e Miguel fazem parte de uma minoria. Fotógrafos da agência Buscando Inspiração, os dois aproveitavam o tempo livre para mais fotografias. O diferencial estava no fato de poderem escolher onde e quais imagens capturar, e o que o casal mais amava era colecionar registros de construções em ruínas.
— Como você conseguiu autorização para entrar e fotografar a escola? — perguntou Beatrice acomodada no banco do carona do carro.
— Usei meu charme — respondeu Miguel piscando o olho direito para a amiga.
— Você pagou, né? — retrucou a mulher enquanto apertava os botões no painel do rádio do carro em busca de uma música que agradasse aos dois.