Escuridão
(Parte 01 de 03)
— Posso interromper seus pensamentos? — perguntou Jared a mulher, que estava sentada em frente a uma das mesas na cafeteria onde ele trabalhava com um olhar distraído.
Ela olhou para o homem. Ele parecia ter em torno de 30 anos. Talvez essa impressão fosse causada pelo seu corpo, magro, mas com alguns músculos visíveis mesmo sob a roupa, ou talvez por seus cabelos castanho escuros e seus olhos brilhantes.
— Ah, tudo bem. Não está interrompendo — ela respondeu. Seus cabelos escuros lhe caíam pelos ombros com leves ondulações nas pontas e a pouca luz do sol que entrava pela janela ao lado da mesa, refletia em sua pele.
— Posso te servir alguma coisa? Nosso café é a especialidade aqui da região. Posso dizer que é o melhor de Nova Iorque — ele disse sorrindo.
— Acho que não posso sair da cidade sem experimentar, não é? — ela sorriu. — Pode trazer uma xícara pra mim, por favor.
— Em um minuto — Jared respondeu se afastando.
A mulher ficou olhando enquanto ele se afastava. Por um momento ela se sentiu dentro de um seriado ou filme americano onde um homem muito bonito aparece do nada e muda a sua vida. Mas ela logo parou de imaginar coisas.
Jared voltou com a xícara de café e ficou de pé ao lado dela.
— Humm, — ela disse depois de experimentar. — Realmente muito bom!
— Meu pai compra o pó direto do produtor que vive há alguns quilômetros daqui.
— Por isso é tão bom. Parece muito mais fresco dos que compramos no mercado.
Jared sorriu para ela — você é daqui? — Perguntou.
— Na verdade sou de muito longe — ela sorriu. — Vim do Brasil.
— Nossa, quando você falou que veio de longe imaginei um estado longe, mas não outro país.
Ela sorriu.
— Mas você nasceu aqui ou coisa assim?
— Não, nasci lá.
— Seu inglês é muito bom, eu não perceberia que você é de outro país.
— Obrigada. Talvez seja porque comecei a estudar o idioma quando ainda era criança.
— Com certeza isso conta. Faz muito tempo que você mora aqui em Nova Iorque?
— Faz dois anos já. Ganhei a viagem de presente dos meus pais quando terminei a faculdade de medicina e me estabeleci. Mas estou pensando em voltar pra casa.
— Por quê? Ah, me desculpe pela intromissão — A pergunta havia saído naturalmente. Ele não teve a intenção de ser enxerido, por isso se desculpou logo em seguida.
— Tudo bem — ela sorriu. — Eu trabalhava em uma livraria, mas o dono teve que reduzir o pessoal, e eu perdi o emprego. Vai ficar difícil para eu me manter aqui.
— E se você conseguisse outro emprego? — Jared perguntou.
A mulher olhou para ele sem responder.
— Espere um minuto — ele se afastou e voltou alguns instantes depois com um homem parecido com ele, porém com alguns anos a mais, o que era denunciado pelos fios de cabelos brancos.
— Olá — disse o homem estendendo a mão a cumprimentando. — Eu me chamo Arthur, e meu filho Jared disse que você poderia estar interessada em um emprego?
— Ah, bom, eu gostaria de ter essa oportunidade. Não estava querendo me despedir de Nova Iorque ainda.
— Você tem experiência trabalhando com público?
— Eu trabalhava em uma livraria. Acho que talvez seja um público diferente, mas tenho sim.
— Bom, estamos precisando de mais uma pessoa para nos ajudar a servir as mesas. O Jared tem ajudado, mas ficar no caixa e servir as mesas ao mesmo tempo não são tarefas fáceis — Arthur comentou. — Fique um tempo como experiência, qualquer tempinho que você ficar conosco vai ajudar bastante — ele continuou.
— Aceito — ela respondeu sorrindo.
— Quando terminar seu café venha a meu escritório para acertarmos os detalhes — Arthur apertou a mão dela mais uma vez e começou a se afastar, mas parou e se virou de volta — desculpe a indelicadeza, mas qual o seu nome?
— Anna — ela respondeu sorrindo.
(...)
Seis meses
depois
Jared dirigiu para dentro do primeiro posto de gasolina que encontraram. Com a chuva torrencial que caía, ele e Anna não podiam continuar a viagem de carro de volta pra Nova Iorque.
— Vou ligar pro seu pai e avisar que não chegaremos hoje — Anna pegou o celular em sua bolsa.
— Eu vou à loja de conveniência tentar descobrir onde exatamente estamos, já que esse posto não está no GPS.
Anna acenou positivamente com a cabeça, enquanto procurava o número do café na agenda do celular, e Jared saiu do carro. Levou cerca de dez minutos para que ele voltasse muito molhado.
— O dono da loja disse que tem uns chalés para alugar aqui perto.
— E onde estamos? — Anna perguntou pegando uma toalha dentro de sua mochila no banco de trás e entregando a Jared.
— Old River. Conhece?
— Nunca ouvi falar — ela respondeu sorrindo.
— Bom, de qualquer forma, a gente passa a noite nesses chalés e amanhã de manhã vamos para Nova Iorque — Jared devolveu a toalha para Anna.
— Espero que o tal lugar não seja longe. Você não pode ficar muito tempo com essa roupa molhada.
— Tá bom mamãe — ele disse com um sorriso moleque no rosto enquanto ligava o carro.
— Alguns anos na faculdade de medicina te ensinam alguns truques para evitar a gripe — Anna sorriu de volta para ele e ligou o ar quente para tentar mantê-lo aquecido.
Com as indicações dadas pelo homem eles logo conseguiram chegar aos chalés. Era um pátio amplo, coberto de cascalho, com várias casinhas enfileiradas lado a lado e uma enorme árvore plantada bem no meio dele impossível de passar despercebida. Após passarem por ela, avistaram um letreiro em uma das casinhas onde se lia a palavra: Recepção. Jared parou o carro em frente e, correndo para evitar se molhar, eles entraram.
— Boa noite — ele disse para chamar a atenção da mulher que lia um pequeno livro, sentada atrás do balcão de madeira. — Nós gostaríamos de alugar dois quartos para passar a noite.
Eles notaram que os móveis que ornavam a decoração dali tinham estilo vintage, ou eram realmente de décadas passadas. A mulher magra e de aparência cansada, com uma silhueta ossuda visível por baixo do vestido comprido de malha de flores miúdas, se levantou para atendê-los.
— Está tudo ocupado. Só temos um quarto.
Jared se virou para Anna.
— Por mim não tem problema eu passar a noite no carro — ele sugeriu.
— Não tem essa necessidade Jay — ela se aproximou do balcão. — O quarto tem quantas camas?
— Posso colocar vocês em um com duas de solteiro — a mulher respondeu.
Anna voltou a olhar para Jared — por mim não tem problema. Eu confio em você — ela sorriu e mostrou a língua para ele.
Jared sorriu com a brincadeira da amiga — vamos ficar com este então. — Ele informou a mulher da recepção.
Detalhes financeiros acertados, o que teve que ser feito em dinheiro, pois a mulher não tinha máquina de cartão de crédito, ela entregou a eles a chave do chalé número 9 que ficava bem de frente para a grande árvore. As acomodações eram modestas, mas o local era seco e aconchegante. Havia uma escrivaninha velha e cheia de cupins embaixo da grande janela ao lado da porta e duas camas de solteiro com uma mesinha de cabeceira ao lado cada uma, no meio do quarto. Aos pés das duas camas, uma mesinha com uma televisão velha e empoeirada e na parede oposta à porta, um guarda—roupas. Entre as cabeceiras das camas havia uma porta que levava a um banheiro.
— Estranho ela dizer que os quartos estão todos ocupados, não é? O estacionando está praticamente vazio. Acho que além do seu carro só vi mais outros dois que pareciam estar parados faz tempo.
— Acho que ela quis dizer que os outros quartos estão é interditado, isso sim.
Anna não respondeu, apenas deu uma gargalhada. Seu estômago, no entanto, a fez lembrar que não haviam comido nada desde que saíram da casa da fazenda do cafeicultor — lá no posto, você comprou alguma coisa pra gente comer Jay?
— Não. Esqueci. Mas se você quiser... — Jared não conseguiu terminar a frase, pois foi interrompido por um forte espirro.
— Jared, tira essa roupa molhada. Você precisa tomar um banho quente.
Enquanto Jared pegava roupas secas em sua mochila, Anna foi verificar o banheiro. Para sua infeliz surpresa ela descobriu que estavam sem luz.
— Pode esquecer o banho quente por hora. Não temos luz — ela disse voltando para o quarto.
— Poxa, eu ia gostar de um banho quente agora. Estou com frio — respondeu.
Anna se aproximou de Jared e toucou sua testa.
— Você está um pouco quente. Não é febre ainda, mas você precisa se aquecer pra não piorar.
Jared entrou no banheiro e trocou suas roupas por outras secas enquanto Anna sacudia um cobertor que encontrou no guarda—roupa para tirar a poeira que havia sobre ele. Seus olhos se encheram de lágrimas quando uma quantidade grande de poeira entrou pelo seu nariz. Ela não resistiu e espirrou.
— Você também? — perguntou Jared já vestido com uma calça de moletom verde escura e uma camisa azul marinho.
— Não. Comigo é só alergia — ela respondeu terminando de arrumar a cama para ele — eu vou à recepção ver se a mulher sabe quando a luz volta.
— Telefona pra lá — disse Jared indicando um telefone na cabeceira do lado esquerdo da cama.
— Melhor do que sair nessa chuva — Anna tirou o aparelho do gancho, mas ele estava mudo. — Parece que eu vou ter que encarar o temporal.
— Vai de carro. Depois a gente completa o tanque naquele posto.
— Já volto — Anna pegou a chave do carro no bolso da frente da mochila de Jared.
Um vento gelado varreu o quarto quando a porta foi aberta e ela fechou rapidamente a fechou. O barulho do cascalho molhado indicou para ele o movimento do carro se afastando e o subsequente silêncio foi o sinal de que ela chegara à recepção. Anna agradeceu a ideia de ir de carro, caso contrário teria ficado ensopada, porém sua visita à recepção não deu muito resultado, e o jeito foi voltar para o quarto com a má noticia.
— A mulher disse que um galho caiu sobre o transformador. Só quando a chuva parar é que vão ver o que dá pra fazer. Até lá... Escuridão. O engraçado é que só agora notei que a luz que iluminava a recepção vinha de velas.
— Nem tinha notado isso.
— Pois é, nem eu.
— Tem uma lanterna no carro — Jared se lembrou.
— O problema é que não podemos deixar ela acesa o tempo todo — enquanto falava, Anna olhava dentro do guarda-roupa e nas gavetas da escrivaninha quando finalmente achou o que procurava. — Uma caixa de velas e uma de fósforo. A mulher falou que eu iria encontrar. Até parece que eles já estavam preparados pra isso.
— Vai ver estavam. Afinal, isso aqui é bem diferente do The Muse.
Os dois riram da observação comparando aquele hotel de beira de estrada com o famoso e sofisticado hotel de Nova Iorque. Anna pegou um pote raso na sua mochila, onde antes havia dois sanduíches, e colocou uma vela no pote e outra sobre a tampa, tomando o cuidado de encher os recipientes com água. Com o quarto mais iluminado, ela foi até o banheiro trocar suas roupas por outras mais confortáveis para poder dormir na outra cama que ela acabara de arrumar.
— Boa noite — ela disse ao se deitar.
— Boa noite — ele respondeu.
Anna se cobriu na tentativa de se proteger do frio. Jared fez o mesmo enquanto raios, trovões e uma forte chuva eram tudo que havia para embalar o sono dos dois.
Começo muito bom!! Quero a continuação,hein! =
ResponderExcluirOi prima!!
ExcluirJá tem continuação aqui no blog mesmo!!
Escuridão - Parte 2 - http://universo-invisivel.blogspot.com/2011/04/escuridao-parte-02.html
Escuridão - Final - http://universo-invisivel.blogspot.com/2011/04/escuridao-final.html
Lê lá e depois me diz o que achou!!
Beijusss;
Hummmmmm bom!!! :)
ResponderExcluirDemorei mais eu vim amiga, é que quando eu vim a primeira vez eu nao achei o episódio,.
Se clicar no continua agente le mais?!! hehe
Amiga, pode me dar uma força neste post?
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/2012/05/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_07.html#links
beijoss
Que legal que você gostou!!
ExcluirHum... entendi...
Bom, que bom que vc achou agora!! ^^
Sim, sim!! A estória já está toda aqui!!
Já passei lá e estou participando!!
Beijusssss;
Estou gostando muito.vou continuar a leitura.
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