Autocontrole

A busca levou 1 ano e a todos os envolvidos estavam radiantes porem ter conseguido. O serial killer que tirou o sono dos investigadores finalmente estava em poder deles e, contrariando as estatísticas, era uma mulher. Seus traços teriam encantado pelo menos a metade dos oficias de segurança pública, não fosse a crueldade de seus atos e a firmeza em seu olhar.

Mais de cinquenta homens uniformizados enfileirados no corredor a encaravam, todos de arma em punho e expressão séria no rosto. No entanto, a jovem mulher não demonstrava o menor sinal de estar incomodada ou sequer com medo daquilo.

— Você está muito tranquila para quem provavelmente vai encarar o corredor da morte daqui a alguns meses — comentou o oficial.

— Sabe qual a característica mais conveniente para um serial killer? — perguntou ela.

— Frieza, falta de amor ao próximo...

— Autocontrole.

O oficial olhou para mulher com algemas nos pulsos e nos tornozelos com uma fina corrente unindo os membros e limitando seus movimentos e, por mais estranho que pudesse parecer, sentiu medo. Uma sensação desconfortável que aumentou quando ela sorriu.

Turista Espacial

A pequena comunidade se aglomerou na clareira no meio do bosque empunhando lanternas, velas e lamparinas ao redor do veículo recém-derrubado. Sentiam-se como heróis que haviam acabado de salvar sua pequena vila do ataque de alienígenas furiosos que tinham a intenção de destruí-los. Mas, ao contrário de sentirem-se aliviados, o que havia no rosto deles era frustração ao verem uma mulher de calça jeans, tênis e camisa branca se arrastar para fora da espaçonave.

A alienígena olhou com medo para seus captores enquanto amparava o braço direito com o esquerdo sem saber o que fazer com o enorme ferimento. O líquido de cor vermelho intensa escorria pelo corte deixando os moradores ainda mais certos de que se tratava apenas de uma brincadeira de mau gosto para zombar deles. Não era novidade pessoas virem de cidades mais populosas para encenar uma situação que os assustasse com o intuito de ganhar visibilidade na internet.

O homem mais velho foi o primeiro a cuspir no chão e virar as costas caminhando de volta para a sua casa na tentativa de evitar a neblina fria que começava a cair. Seguindo o seu exemplo, os demais moradores foram se afastando um a um sem ao menos oferecer ajuda à estrangeira ferida.

Aurora imaginou que seria deixada para morrer, mas um jovem rapaz não havia se mexido. Olhava para ela com curiosidade. Hugo estava com uma sensação estranha e inexplicável de que a criatura com a aparência de uma jovem mulher sentada de frente para ele realmente não era humana.

Ele caminhou na direção dela, e a ração da alienígena foi se arrastar alguns metros para longe dele. Aquilo fez Hugo parar onde estava.

Concursos Literários 2022

Semana passada, na postagem [Lista] Metas 2022 no blog Mente Hipercriativa, mencionei minha vontade de participar de concursos literários para tentar motivar minha escrita e quem sabe ganhar um pouco de divulgação caso consiga escrever um texto bom o suficiente para receber premiação.

Pensando nisso, este ano pretendo ficar atenta aos editais de revistas virtuais, editoras e afins e selecionar tantos quantos eu me sentir confortável com a proposta para participar.

Tradições Natalinas

As batidas na porta da frente surpreenderam os 3 irmãos que assistiam a um filme na TV da sala. Como de costume, Zephyrus, ou Zephy como prefere ser chamada, se adiantou para atender, já sabendo que William e Wendy não fariam isso. A jovem não se importava, pois geralmente era entrega de encomenda para um deles ou uma visita para ela. Ao abrir a porta ela descobriu se tratar da segunda opção.

— John! — ela abriu um sorriso ao ver o namorado parado na soleira da porta. — Não estava esperando sua visita. Pelo que entendi você ia passar o Natal em casa...

— Eu tentei, eu juro que tentei — o desânimo estava evidente no rosto dele.

— O que aconteceu? Ele bateu em você de novo? — perguntou ela preocupada conhecendo tratamento desumano que o jovem adulto recebia em casa.

— Não, — um pequeno sorriso apareceu no rosto de John. — Durante o Natal ele é um exemplo de inspiração para todos — ironizou. — Aguentei o máximo que consegui, mas não vou fazer o papel de filho problemático de pais esforçados.

— Se você vai ficar com a gente, não é melhor entrar logo? — gritou William do sofá que dividia com Wendy. — Está caindo neve dentro de casa.

John e Zephy olharam para baixo e perceberam os delicados flocos embranquecendo o chão e seus pés. Os dele calçados enquanto os dela, descalços.

— Como ele sabe que eu vim pedir abrigo? — perguntou o jovem entrando enquanto a namorada fechava a porta.

[Refletindo] Semeadora de Ideias

Meus textos são como árvores plantadas com todo cuidado, observadas em sua primeira fase de crescimento e depois deixadas à própria sorte. Podem dar frutos, sombra ou cair durante uma tempestade antes que alguém sequer tome consciência de sua existência.

Para mim, essa é a parte mais difícil quando o assunto é continuar semeando (escrevendo), sem saber se está sendo útil para alguma coisa ou apenas gastando energia elétrica. Não sei se minhas palavras estão alcançando alguém, confortando algum coração ou apenas se perdendo em meio a tantas outras, igualmente valiosas, que existem por aí. Tem mais gente para elogiar o fato de eu ser escritora, do que realmente ler e fazer algum comentário a respeito.

De onde tirar motivação então? Por que passar as ideias que estão na minha cabeça para o papel e depois publicar, se o interesse das pessoas é tão pequeno? A única resposta que eu tenho é também a que me faz sentir egoísta e culpada: Porque escrever me faz muito bem.

Casual

No último dia 16 de novembro foi o aniversário de 13 anos do Universo Invisível, e apesar da pouca visualização e escassos comentários que recebo, nunca quis desistir de vez desse cantinho onde deixo extravasar minhas mais variadas ideias. É verdade que já abandonei o blog algumas vezes, nem sempre é possível superar a desmotivação, mas eu sempre volto e o meu Universo Invisível me acolhe como uma velha amiga.

Na postagem de hoje, um texto sem muita pretensão. Apenas um instante da vida de alguém. Os personagens não receberam nome deixando para quem ler imaginar, se assim desejar, a identidade de cada um. Espero que gostem!


Ela acordou na cama de casal e percebeu que estava sozinha, mas sabia que ele ainda estava por perto, afinal, era a casa dele. Um ator famoso. Seu coração acelerou só de imaginar, e sentir o lençol branco sobre seu corpo completamente nu a fez dar uma risadinha. Sabia que sentira a culpa mais tarde. 

Ela não achava certo tal comportamento, não desejava aquele tipo de vida e nunca havia feito nada igual na vida. Mas também nunca havia voado de avião, viajado para fora do país, visitado um set de filmagem e nem mesmo conseguido chamar a atenção de um homem que tivesse despertado seu interesse.

Almas Gêmeas

Espero que vocês não tenham acreditado quando eu disse aqui que a história de Catarina e João começaria e terminaria em uma única postagem... bem... lá vamos nós de novo. Espero que vocês gostem dessa conversa entre a dupla.

A tarde estava amena, com o sol de outono aquecendo o corpo numa intensidade agradável, e o chá servido na mesinha redonda branca de ferro sobre o gramado no quintal dos fundos, de frente para a floresta, deixava tudo ainda mais perfeito.

Catarina e João estavam um de cada lado dela, reclinados sobre as espreguiçadeiras de madeira cobertas com almofadas envoltas num tecido de estampa floral de algodão, costuradas pelo próprio lobisomem. A bruxa havia se oferecido para fazer o serviço usando magia, mas ele gostava de trabalhos manuais.

— Você acredita em almas gêmeas? — perguntou João repousando a xícara do jogo de porcelana que ele havia comprado para ela sobre o pires antes de pegar um dos sanduíches de atum com cenoura.

Bebida e comida preparadas por ela usando magia tanto para acelerar o processo quanto para divertir o amigo.

O tempo que os dois viviam juntos permitia esse tipo de diálogo sem qualquer desconforto, mas a espontaneidade da pergunta inesperada fez Catarina sorrir. A mulher sentou e cruzou as pernas em posição de lótus com os pés ocultos embaixo dos joelhos e ficou olhando para o líquido vermelho dentro da xícara enquanto pensava no que responder.

— Depende do que você considera alma gêmea — disse ela por fim, olhando para o amigo à sua direita.