Tradições Natalinas

As batidas na porta da frente surpreenderam os 3 irmãos que assistiam a um filme na TV da sala. Como de costume, Zephyrus, ou Zephy como prefere ser chamada, se adiantou para atender, já sabendo que William e Wendy não fariam isso. A jovem não se importava, pois geralmente era entrega de encomenda para um deles ou uma visita para ela. Ao abrir a porta ela descobriu se tratar da segunda opção.

— John! — ela abriu um sorriso ao ver o namorado parado na soleira da porta. — Não estava esperando sua visita. Pelo que entendi você ia passar o Natal em casa...

— Eu tentei, eu juro que tentei — o desânimo estava evidente no rosto dele.

— O que aconteceu? Ele bateu em você de novo? — perguntou ela preocupada conhecendo tratamento desumano que o jovem adulto recebia em casa.

— Não, — um pequeno sorriso apareceu no rosto de John. — Durante o Natal ele é um exemplo de inspiração para todos — ironizou. — Aguentei o máximo que consegui, mas não vou fazer o papel de filho problemático de pais esforçados.

— Se você vai ficar com a gente, não é melhor entrar logo? — gritou William do sofá que dividia com Wendy. — Está caindo neve dentro de casa.

John e Zephy olharam para baixo e perceberam os delicados flocos embranquecendo o chão e seus pés. Os dele calçados enquanto os dela, descalços.

— Como ele sabe que eu vim pedir abrigo? — perguntou o jovem entrando enquanto a namorada fechava a porta.

— Toda essa conversa sobre seus pais...

— Mas...

— E a mochila nas suas costas — ela sorriu o interrompendo. — Mesmo com a lapela do seu sobretudo escondendo as alças, dá pra notar o volume.

— Então eu posso ficar? — perguntou ele tirando o par de luvas apenas para conferir.

— Deixa suas coisas no meu quarto — indicou Zephy. — Você já conhece o caminho — disse ela beijando o rosto de John quando ele passou ao seu lado.

A jovem voltou para junto dos irmãos se acomodando em um sofá vazio para que o namorado pudesse ficar ao seu lado.

— O que vocês estão assistindo? — perguntou o visitante ao voltar para o cômodo sem o sobretudo exibindo um suéter vermelho com estampa de tema natalino.

O agasalho provocou risinhos discretos em William e Wendy, já Zephy acolheu o namorado com um abraço e um beijo demorado o suficiente para fazer os irmãos pararem de rir.

— O que vocês estão assistindo? — quis saber John ainda olhando apaixonadamente para a jovem na sua frente.

— Uma dessas bobeiras natalinas — respondeu William.

— Ela obriga a gente — continuou Wendy.

— É nossa tradição e vocês gostam! — retrucou Zephy.

John apenas olhou para cada um se divertindo com a situação antes de voltar a atenção para a TV. Como estava no começo, ainda levou quase uma hora para a sessão pipoca acabar, contando inclusive com a guloseima que Wendy preparou no forno de micro-ondas para os quatro.

Com o fim do filme e livres da tradição imposta pela irmã, a dupla voltou para seus interesses deixando o casal de namorados sozinho na sala.

— Quer conversar sobre o que aconteceu na sua casa, ou prefere deixar para lá? — perguntou Zephy escorregando os dedos pela franja dos cabelos loiros de John.

— Nada demais, na verdade — respondeu ele. — Só não aguento a falsidade deles lamentando o tanto que fizeram por mim e pela Harriet e o quão ingrato nos somos usando nossos primos perfeitos como exemplo do que deveríamos ser. Normalmente eu aguento, mas sem a minha irmã em casa e com um lugar bem melhor para ficar, esse ano resolvi fazer diferente.

— Fez bem — concordou Zephy.

— O filme natalino é a única tradição de vocês? Não tem decoração... Ceia...

— Ceia só quando o papai e a mamãe vêm visitar a gente, caso contrário eu compro alguma coisa congelada diferente para fazer. E decoração, — a jovem fez uma pequena pausa. — Acho meio triste montar tudo sozinha, e não quero forçar os dois a fazerem mais do que já fazem. Sei que eles não gostam.

— E se eu te ajudar? Vocês têm enfeites em casa?

— Ficam no armário da biblioteca — respondeu Zephy com um dos sorrisos mais bonito que John já havia visto no rosto da namorada. Perdia apenas para o que ele viu depois do primeiro beijo dos dois.

— É só você dizer se quer — disse ele com um sorriso que foi interrompido pela demonstração calorosa de afeto de Zephy com um beijo apaixonado.

O momento se prolongou mais do que de costume e foi interrompido por William passando pelo corredor vindo da cozinha.

— Por favor, na sala não! — resmungou o mais velho dos irmãos presente na casa antes de se trancar no próprio quarto.

— Oops, — disse Zephy comprimindo a língua entre os lábios tirando a mão de John que estava por baixo de sua blusa.

O jovem, um pouco envergonhado, ajeitou o suéter depois que a namorada saiu de cima dele para voltar a se sentar no sofá.

— Vamos pegar os enfeites! — anunciou ela animada.

De mãos dadas o casal seguiu até a biblioteca onde Wendy lia um livro acomodada sobre a espreguiçadeira de estofado marrom escuro que combinava com as cortinas de veludo vermelho. 

As irmãs trocaram um sorriso enquanto John trazia a escada deslizante que ficava acoplada à estante para perto deles para conseguirem alcançar o armário na parte superior do móvel.

Com duas caixas de papelão nas mãos, uma bem grande e outra um pouco maior do que uma caixa de sapatos, o casal voltou para a sala. Zephy liberou espaço no chão em um dos cantos do cômodo e junto com o namorado abriram a caixa maior onde estava a árvore artificial desmontada.

Sabendo que os filhos não comprariam uma árvore para montar todo ano, aquela era a tentativa dos pais deles de que houvesse algum tipo de decoração natalina na casa. Até aquele momento, o recurso havia falhado.

— E minha irmãzinha se rendeu às pressões do mercado de decoração da estação... — provocou William entrando na sala.

— Não sei como se já tem vários anos que a mamãe comprou isso pra gente — retrucou ela enquanto passava uma bola vermelha para John pendurar na árvore que, depois de montada, ficou quase um palmo mais alta do que ele. — Olha isso William, — Zephy se levantou segurando um festão prateado nas mãos para colocar em volta do pescoço do irmão. — Brilha!

— Acho que com umas luzinhas coloridas ele serviria de decoração também — zombou Wendy entrando no cômodo ao ver a peça em volta do pescoço do irmão.

William fez uma careta para as irmãs, mas não tirou o adorno prateado do pescoço. Os quatro estavam contagiados com o espírito natalino e ao contrário do que pensavam William e Wendy, estava sendo bastante agradável.

— Nossos bonequinhos personalizados ainda estão aqui — anunciou a gêmea fraterna mais nova pegando os itens no fundo da caixa menor.

— Ideia da mamãe — explicou Zephy a John que não entendeu do que a jovem falava. — Ela descobriu uma artesã que fazia bonequinhos e encomendou três representando nossas habilidades para pendurar na árvore quando ainda éramos crianças. Quando a gente se mudou para Londres ela fez a gente trazer.

— A química para mim, matemática para Wendy e literatura para Zephy — indicou William enquanto a irmã passava as pequenas figuras a John que as pendurava nos ramos verdes artificiais.

— Eu nunca me dei muito bem com a área de exatas — justificou a jovem cuja bonequinha tinha um livro em uma mão e um lápis na outra.

— É preciso inteligência para entender o nosso mundo, — declarou William. — Mas criar um mundo a partir do nada, exige ainda mais de um intelecto.

Zephy abraçou o irmão que retribuiu o carinho. Quando se afastaram, ele tirou o festão prateado dos ombros e o enrolou em volta da árvore. Estava pronta a decoração natalina da sala. John ligou na tomada o fio das pequenas luzinhas coloridas que começaram a piscar enfeitando o ambiente.

— Pra ficar perfeito só falta uma coisinha... — pediu Zephy olhando para o irmão.

— Verdade! — concordou Wendy.

John olhou curioso para as jovens querendo entender do que falavam.

— Vocês me exploram — reclamou William.

— Quem manda ser o melhor químico da família? — retrucou a gêmea mais velha.

Ele sorriu em resposta antes de ir para a cozinha.

— O que ele vai fazer? — perguntou John não se aguentando de curiosidade.

— Você já vai descobrir — respondeu Zephy abraçando o namorado pela cintura e tocando os lábios dele com os seus em um beijo rápido.

William voltou alguns minutos depois com uma bandeja com quatro canecas de vidro transparentes fumegantes.

— Duvido que você já tenha experimentado um Mulled Wine melhor! — finalmente Zephy revelou a John do que se tratava.

Segurando uma caneca cada um, os quatro brindaram desejando uns aos outros um Feliz Natal. Nem de longe era um Natal típico daquela casa. Os irmãos tinham as tradições que gostavam de abraçar e as que rejeitavam, mas, sem dúvida, o amor que os unia fazia com que fossem capazes de tudo uns pelos outros.

Bom, esse é o último texto do ano aqui no blog Universo Invisível! Espero que vocês tenham gostado das postagens anteriores e estejam na expectativa pelas que virão no ano que vem! Não deixem de comentar!

Feliz Natal e um Ano Novo repleto de bênçãos para nós!

6 comentários:

  1. Muito legal!! :)
    Feliz Ano Novo! Que 2022 seja incrível pra você! ♥

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Valéria,
      Fico feliz que tenha gostado!
      Feliz Ano novo! Que 2022 seja incrível para você também!

      Beijos;

      Excluir
  2. Ah, que delícia de texto! Volta Nataaaal!!!!
    Um beijo Helaina ~ e Feliz Ano Novo :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Camila!
      Fico feliz que você tenha gostado do texto e que tenha causado essa sensação de querer o Natal de volta! :)

      Um excelente Ano Novo para você!
      Beijos;

      Excluir
  3. Olá!
    Amei ver seu texto, acho muito bacana ver a evolução da nossa escrita.
    beijos.


    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vanessa!
      Fico feliz que você tenha gostado!
      Sim, é muito bom!

      Beijos;

      Excluir

Agradeço muito a sua visita! Deixe um comentário!

- Atenção: Ao comentar você concorda com as políticas de comentários do blog.
Saiba mais: Políticas de Comentários.

Todos os comentários são revisados antes da publicação.
Obs: Os comentários não publicados pela autora não refletem a opinião do blog.