Casual

No último dia 16 de novembro foi o aniversário de 13 anos do Universo Invisível, e apesar da pouca visualização e escassos comentários que recebo, nunca quis desistir de vez desse cantinho onde deixo extravasar minhas mais variadas ideias. É verdade que já abandonei o blog algumas vezes, nem sempre é possível superar a desmotivação, mas eu sempre volto e o meu Universo Invisível me acolhe como uma velha amiga.

Na postagem de hoje, um texto sem muita pretensão. Apenas um instante da vida de alguém. Os personagens não receberam nome deixando para quem ler imaginar, se assim desejar, a identidade de cada um. Espero que gostem!


Ela acordou na cama de casal e percebeu que estava sozinha, mas sabia que ele ainda estava por perto, afinal, era a casa dele. Um ator famoso. Seu coração acelerou só de imaginar, e sentir o lençol branco sobre seu corpo completamente nu a fez dar uma risadinha. Sabia que sentira a culpa mais tarde. 

Ela não achava certo tal comportamento, não desejava aquele tipo de vida e nunca havia feito nada igual na vida. Mas também nunca havia voado de avião, viajado para fora do país, visitado um set de filmagem e nem mesmo conseguido chamar a atenção de um homem que tivesse despertado seu interesse.

Já que estava vivenciando um sonho, do tipo que não se atreveria a admitir publicamente possuir, ela resolveu desfrutar de todos os seus clichês favoritos e quando terminou de vestir suas peças íntimas, colocou a camisa social azul clara dele por cima. Descalça e com apenas metade dos botões fechados, a mulher seguiu o aroma de comida recém-preparada que vinha da cozinha.

Ele era britânico, então o cheiro de café fresco a surpreendeu ao mesmo tempo em que a fez se sentir um pouco tola. Se o consumo de chá dos conterrâneos da Rainha Elizabeth II fosse igual ao das fanfics que ela gostava tanto de escrever e ler, não haveria estoque suficiente no mundo.

— Bebe sem açúcar? — perguntou ele vestindo um roupão azul escuro com listras claras enquanto enchia uma caneca com o líquido preto e oferecendo a ela.

— Preciso de um pouco pelo menos, — informou a mulher imaginando se estava sendo exigente demais. — Mas se não tiver, não tem problema — acrescentou enquanto pegava a caneca.

— Aqui. — O homem trouxe uma caixinha com vários sachês de açúcar e voltou para a máquina de café para encher a própria caneca. — Hum, — ele tomou um pouco da bebida, sem açúcar mesmo. — Fiz ovos mexidos e torradas.

Assim que ele terminou de falar, as duas fatias de pão de forma saltaram para fora da torradeira. A mulher deixou a caneca sobre a mesa e caminhou até a bancada onde estava o eletrodoméstico retirando de lá as fatias e colocando em um prato onde já havia outras duas. A pequena montanha amarela fumegante chegou à mesa em um prato ao mesmo tempo em que os pães.

— Fiquei em dúvida sobre o que você gosta — comentou ele se acomodando em uma das quatro cadeiras em volta da mesa redonda de madeira.

— Não precisava ter se incomodado. — Ela estava sentada em uma cadeira próxima perto dele com um sorriso estampado no rosto. O mesmo desde a noite anterior. — Raramente eu tomo café da manhã.

— É do tipo que pula as refeições? — quis saber ele antes de morder uma torrada.

— Do tipo que acorda na hora do almoço — respondeu ela franzindo a testa.

O homem sorriu fazendo o coração dela acelerar, e a mulher preferiu não entrar em detalhes sobre o motivo que a mantinha na cama até tão tarde. Não queria dar àquela doença a chance de estragar mais um momento da sua vida. 

Depois de sentir conforto tantas vezes o assistindo pela TV ou apenas ouvindo a sua voz, mal conseguia acreditar que estava tomando café na cozinha da casa dele depois de uma noite maravilhosa que começou com um jantar após o “meet and greet” no set de filmagem.

Bom, não era realmente a casa dele, conforme o próprio homem informara o local era alugado e ele estava usando enquanto as filmagens da nova temporada do seriado aconteciam na cidade. Um detalhe que não diminuía em nada a felicidade dela de estar ali.

A mulher achou que fosse desmaiar quando depois do abraço e da foto, o homem segurou sua mão direita por um tempo e colocou o bilhete escrito por ele mesmo com um convite e um número de telefone. Obviamente o primeiro sentimento dela foi o medo, o mundo nunca foi um lugar seguro para mulheres, mas resolveu arriscar. Acompanhava a carreira dele há alguns anos e seu histórico não sinalizava perigo.

No momento estava solteiro, mas suas ex-namoradas só teciam elogios sobre a conduta dele e a algumas inclusive continuavam amigas próximas. Os colegas de trabalho também não faziam reclamações e suas declarações nas entrevistas a agradavam.

Mesmo assim, consciente de que poderia haver algo oculto ela permaneceu pronta para reagir e fugir se fosse o caso. Para a sua sorte, no entanto, por trás do ator famoso havia um homem gentil, inteligente e divertido.

O que ela não podia imaginar é que se relacionar com fãs daquela maneira não era algo comum para ele. Entretanto, enquanto a observava dormir ao seu lado na cama, o homem não tinha nenhum resquício de arrependimento pelo que havia feito.

Quando a avistou na fila esperando para cumprimentá-lo em meio a tantas pessoas igualmente entusiasmadas, seu coração disparou e ele não pensou duas vezes antes de pedir um pedaço de papel e uma caneta onde escreveu o convite e seu número de telefone na esperança de que ela aceitasse. O fato é que ele estava tão nervoso quanto ela quando se abraçaram pela primeira vez.

— Você ainda vai ficar por aqui? — perguntou ele tomando um gole do café.

— Mais alguns dias — respondeu ela espetando uma porção de ovos com um garfo e levando à boca. — Depois, se eu não entrar no avião e voltar para o meu país, a imigração vem atrás de mim.

O homem deu uma gargalhada gostosa e ela sorriu enquanto mastigava os ovos. Não tinha o costume de tomar café da manhã, mas seria incapaz de recusar algo feito por ele para ela.

— Eu adorei passar esse tempo com você — admitiu a mulher acariciando o rosto dele com a mão esquerda.

— Faço minhas suas palavras. — O homem fechou os olhos enquanto recebia o carinho.

Os dois sorriram um para o outro, extasiados demais para conseguir dizer qualquer coisa. Trocaram poucas palavras enquanto terminavam de comer e compartilhavam o mesmo desânimo à medida que chegava a hora dele voltar ao set de gravações e ela ao hotel a tempo de se juntar aos companheiros da excursão pela capital Britânica.

— Sua camisa — disse ela de volta no quarto depois de desabotoar a veste e colocar em cima da cama.

— Ficou ótima em você — comentou ele desamarrando a corda do roupão e o deixando perto da camisa.

— Obrigada, mas acho que ficou um pouco grande — retrucou ela dando uma risadinha.

Estar de volta no quarto com ele estava reacendendo o desejo nela e a mulher temeu que nunca viveria algo parecido novamente em sua vida.

— Será que eu posso te pedir só mais uma coisa?

Não tinha certeza se deveria, mas resolveu arriscar.

— Se estiver ao meu alcance... — admitiu ele com o sorriso lindo de sempre no rosto.

— Você poderia me beijar de novo? — Ela sentiu a boca ficar seca sem saber se estava passando uma ideia errada para ele, pois sabia que aquilo não deveria ser nada além de um encontro casual. — Antes da gente se despedir, sabe. Eu entendo que cada um vai seguir um caminho e tal. Pra ficar de lembrança...

O homem ficou sério, porém sua expressão se mantinha serena. Realmente era muito difícil que fosse conseguir levar aquele relacionamento adiante. Pouco provável que passasse de uma amizade, se é que chegaria a isso, mas tudo o que ele queria era beijá-la mais uma vez.

Ele caminhou até ela e a segurou pela nuca, por baixo de seus longos cabelos, antes de unir seus lábios aos dela com toda paixão que emanava dele. A mulher retribuiu com a mesma intensidade, pois há muito havia guardado aquele sentimento em seu coração e queria aproveitar o momento como se fosse o último. No íntimo da sua alma tinha quase certeza que seria.

Por isso, não foi apenas um beijo que os dois compartilharam. Mais uma vez eles deixaram o desejo dominar seus corpos e se entregaram ao prazer como se não houvesse amanhã.

Okay, eu disse no início que não iria identificar os personagens e coloquei um ator britânico. Ato falho... hahaha... ou não. Fiquem à vontade para ignorar a nacionalidade dele se quiserem. Os gêneros também, inclusive.

E então, um sonho muito louco, um perigo ou um “por que não”? O que vocês fariam numa situação dessas? Para mim depende. Depende muito, de várias coisas. Até do meu humor no dia! 😬 Espero que vocês tenham gostado desse pequeno devaneio.

8 comentários:

  1. Olá!
    Parabens pelos 13 anos de blog, é tão bom ver o tempo passar e continuar nesse universo lindo aqui.
    Amei.
    Beijos.


    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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  2. Você escreve super bem!! :)
    E parabéns pelos 13 anos do blog, caramba é bastante tempo heim!
    Ter um blog é uma experiência maravilhosa e única, desejo muito sucesso! ♥

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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    1. Muito obrigada! :D
      Nossa, sim! Precisei fazer as contar para saber quanto tempo era!
      Realmente! Mais uma vez muito obrigada!

      Beijos;

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  3. Depende do momento, com certeza Helaina! Vendo o desenrolar da história, me vem à cabeça um grande "por que não?", mas na vida real existem tantos outros fatores, né? Adorei o texto. :)

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    1. Enquanto eu escrevia vários fatores para o "sim" ou o "não" vieram à minha cabeça. Desde minhas crenças, as coisas que eu aprendi, o que vemos acontecer com as mulheres pelos noticiários, a forma como somos culpadas e castigadas praticamente por tudo que fazemos... sinceramente eu não sei o que faria se tivesse essa oportunidade. É o tipo de resposta que só vou conseguir se passar por algo assim um dia e duvido muuuuuito que aconteça!

      Fico feliz que tenha gostado! :D

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  4. Olá! Gostei da narrativa. É de uma singeleza e sensibilidade marcantes e nos faz também querer ter um encontro assim, algo sem consequências mas ao mesmo tempo ser como um sonho realizado. Obrigado pelo devaneio proporcionado! Abraço!

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    1. Fico muito feliz que você tenha gostado e que eu tenha conseguido proporcionar esse tipo de sentimento através das minhas palavras. Abraço!

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