Hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher, mas ao invés de escrever um poema ou uma mensagem bonitinha, optei por um pequeno conto. Não sei se o classifico como terror, suspense ou algo semelhante. Tudo o que sei é que para algumas pessoas mais sensíveis talvez essa história inspire pesadelos, já para outras talvez pareça tragicômica. O gênero desse conto vai ter que ficar por conta de você, leitor. Eu apenas a escrevi. Espero que agrade à todes
Observação: Durante a história, eu menciono uma música tema de um filme. Ela se chama "Theme from A Summer Place". Quem não a conhece pode ouvir por esse vídeo no Youtube (clique aqui para ouvir) e se preferir até deixá-la tocando enquanto lê a história, pois a ouvi enquanto escrevia.
Sem mais demora, vamos à história!
Artificial
Marcos acorda e se apressa para
tomar banho. Precisa sair logo, pois tem uma missão a cumprir no dia. Ele deve
comprar presentes para sua mãe e irmã pelo Dia Internacional da Mulher. O rapaz
tem dinheiro para dois bons presentes, mas não está muito a fim de comprá-los
porque a máquina de lavar roupas da casa já está velha e ele sabe que pelo
menos metade do dinheiro para a compra do utensílio acabará saindo de seu
bolso. Mesmo tendo um bom salário, não gosta de gastar seu dinheiro com os
outros.
O rapaz sai do banho e veste uma
calça de brim marrom com um cinto, e uma de suas camisas xadrez. A escolhida do
dia é de fundo branco com listras azul-marinho e vermelhas se cruzando. Nos pés
um tênis branco. Na cozinha encontra o café preparado por sua irmã antes de
sair para o trabalho. Ele come e bebe com gosto e parte em sua missão sem se preocupar em limpar o que sujou.
Na porta do apartamento encontra um
folder com propagandas jogado perto do batente da porta. Ele pega o papel, mas
não há valores, apenas fotos de utensílios domésticos de design e cores que
nunca tinha visto. Alguns inclusive com estampas florais geométricas. Mesmo sem saber os
preços, resolve ir à loja, afinal, um eletrodoméstico tão moderno e diferente
certamente serve como presente.
O endereço escrito no papel não
fica muito longe dali e Marcos resolve ir a pé. Mesmo sem nunca ter ouvido
falar de tal loja, não tem dificuldade em encontrá-la. Por fora parece uma loja
de antiguidades, mas uma grande faixa sobre a vitrine indica que ali é
realmente o local que ele procura. Quando entra, um sininho anuncia sua
chegada.
— Bom dia — cumprimenta um vendedor
sorridente que vem até ele.
O homem baixo e careca veste o
uniforme da loja que consiste em sapatos e calça sociais na cor preta, uma
camisa azul claro e no pescoço uma gravata borboleta vermelha.
Marcos teve vontade de rir da
vestimenta dele, mas se conteve. — Bom dia. — respondeu. — Quero ver esses
eletrodomésticos que vocês têm aqui. — Ele mostrou o folder que tinha recebido
ao vendedor.
— Oh, mas é claro! Nossos
produtos são únicos! Fique à vontade para andar pela loja. Só espero que não se
incomode por eu não te acompanhar, estou terminado de organizar a tabela de preços e farei um bom desconto para você!
— Sem problema, não se preocupe.
— Os preços estão afixados nos
produtos, mas lembre-se que ainda vai diminuir um pouco!
O rapaz concorda com um aceno de
cabeça e o vendedor volta a seus afazeres o deixando à vontade para andar pelos
corredores. O lugar é grande e bem iluminado e tem uma música tocando
nos alto-falantes. Marcos
reconhece a melodia. É Theme from A Summer Place.
Ao final
de um dos corredores da loja o rapaz encontra uma pequena casa de madeira. De aparência rústica
com uma jardineira embaixo da única janela existente ao lado da porta. Há uma
placa em sua fachada com os dizeres: “Nunca o trabalho de casa foi tão fácil.
Será difícil você não o fazer”. Tanto a porta quanto a janela estão fechadas,
mas não trancadas. O rapaz imagina que o funcionário da loja apenas ainda não
teve tempo de abri-las e resolve abrir ele mesmo.
(...)
Marcos não se lembra de como foi
parar ali. Cercado por máquinas de lavar roupas e louças. O que o apavora
mais é a impossibilidade de mexer seu corpo. Cabeça, tronco e membros estão
todos paralisados. Na verdade, não consegue nem mesmo senti-los. Até mesmo seus
olhos parecem limitados e não há mais pálpebras para que possa piscá-los. Há
um funcionário da loja mexendo em um eletrodoméstico bem à frente dele. Marcos
tenta gritar por socorro, mas sua voz não sai. Somente nesse momento ele toma
consciência que também já não sente seus lábios.
Quando o funcionário se afasta, o
rapaz consegue ver a máquina lava-louças à sua frente. É um modelo tão
bonito e de aparência moderna quanto os outros do anúncio. Uma grande etiqueta
amarela e vermelha exibe o preço do aparelho. Tem a cor vermelha e é estampada
com pequenas margaridas amarelas. Nesse momento ele se vê no reflexo da porta
de vidro do eletrodoméstico. O terror o deixa em choque. Marcos já não é mais o
mesmo. Também há uma etiqueta de preço colada nele. Uma ótima oferta para uma
máquina de lavar roupas, moderna, com uma porta redonda de vidro na frente, cor
branca e estampa xadrez com listras azul-marinho e vermelhas.
A música “Theme from A Summer Place” ainda toca nos alto-falantes da loja.