Esconde-Esconde (Parte 1)

Atualização (01/06/2022): Às vezes é difícil decidir se escrevo uma fanfic, e aproveito o hype de um filme ou série para divulgar minha escrita. Foi mais ou menos o que aconteceu com essa história. Começou como uma fanfic, precisei converter em autoral para publicar aqui no blog, e acabei revisando e publicando como fanfic no Wattpad. Essa série de postagens que eu dividi em 5 partes são os “rascunhos” originais da minha primeira aventura com romance policial. Quem quiser ler, fique à vontade, mas considero a versão disponível no Wattpad muito melhor escrita. Não deixem de conferir:

Começar a ler

Esconde - Esconde

(Parte 01 de 05)

O trabalho da polícia nunca para, e aquela fria manhã de inverno não seria diferente. Por volta das sete horas, os investigadores Stella Castro Rios, uma mulher de 24 anos, altura mediana, cabelos pretos que desciam até o meio das suas costas e olhos castanhos e Renato Santos com 29 anos, alto, cabelo castanho, lisos e curtos e olhos azuis, esperavam por sua colega, a também investigadora Samara Medina. Ela havia ido até a sala do chefe deles, César Alves, buscar as informações sobre o próximo caso no qual eles trabalhariam. Eles estavam no prédio de uma das sedes da Policia Civil em Juiz de Fora, onde trabalhavam. Após pegar o envelope, Samara seguiu apressadamente para sua sala onde encontraria seu namorado e sua amiga a esperando.

— Desculpe-me — disse Samara ao esbarrar em uma mulher que estava no corredor. Ela estava tão submersa na leitura dos papéis que estava em suas mãos, que não a viu. Samara entrou no elevador e desceu até o 4º andar. Em frente à sala de número 42, levantou a mão e girou a maçaneta — aqui está! — ela disse mostrando o papel para os outros dois investigadores a sua frente — temos que nos apressar, eles não vão conseguir manter a cena totalmente isolada por muito tempo — Samara tinha a mesma idade e altura que Stella, seus cabelos, no entanto eram loiros e um pouco mais longos.

— Aff... Esse povo curioso — Stella reclamou vestindo seu casaco e saindo junto com seus amigos. Renato, que saiu por último, fechou a porta.

O lugar não era muito longe dali, como a maioria dos lugares em Juiz de Fora. Principalmente usando o carro da polícia com o giroflex ligado para não ter que parar nos sinais de trânsito. Eles seguiram direto pela Avenida Rio Branco e chegaram ao campo de futebol atrás de um cemitério onde um cadáver havia sido encontrado. O corpo era de um homem caucasiano, de aproximadamente uns 40 anos.

— Há quanto tempo ele está aí? — Stella perguntou.

— Pelo menos umas 10 horas a julgar pela temperatura do fígado — informou o legista que estava no local.

— É isto condiz com as moscas da família Sarcophagidae que já chegaram ao cadáver — Stella continuou ao se agachar ao lado do corpo — dado o tempo em que o corpo deve estar aqui, deveria haver mais moscas, ou talvez até ovos. Mas considerando que é inverno, que o homem morreu à noite e estava vestindo muitas roupas, a colonização da carcaça começou há pouco tempo. Quem encontrou o corpo? — a investigadora perguntou.

— O zelador do campo. Ele chegou hoje de manhã para aparar o gramado e o encontrou.

— Onde ele está agora? — Samara continuou.

— Na delegacia prestando depoimento.

Samara anotava tudo em um caderno de campo que trazia consigo. Depois, os três se puseram a andar procurando qualquer evidência que os levasse até o assassino. Aparentemente o campo estava limpo, como era de se esperar em uma cena que era aparentemente de “desova de cadáver”. O local onde havia ocorrido o crime devia ter mais respostas.

— Posso levar o corpo para o IML?

— Sim. As fotos de identificação já foram tiradas — Samara respondeu — você vai fazer a necrópsica?

— Não. Estou só fazendo um favor para o doutor Túlio. Meu turno já acabou. Ele já está lá esperando o corpo.

— Tudo certo então — Samara voltou a procurar evidencias pelo local.

Mais à frente Stella encontrou uma cena a qual jamais esqueceria. Ela havia entrado por uma estradinha em meio a algumas árvores ao lado do campo de futebol, e em um lugar onde o barranco estava mais escavado por causa da raiz de uma grande árvore havia o corpo de um menino que não devia ter mais que uns oito anos. O garoto de pele clara e cabelos pretos usava um uniforme de jogador de futebol que estava cheio de manchas de sangue. O cheiro de sangue era muito forte. O menino estava com o pescoço quase completamente decepado.

Vendo de longe a amiga parada em frente a alguma coisa, Samara se aproximou, mas antes que ela avistasse o corpo, Stella pediu que ela chamasse os outros policiais, pois havia encontrado mais um corpo. Antes que eles pudessem chegar e contaminar a área, Stella tirou algumas fotos do local como havia sido encontrado.

— Meu Deus! — exclamou um policial de nome Alexandre que havia acabado de chegar à cena — quem faria isso com uma criança? Parece mais um anjo dormindo.

De fato, em vista do horror inicial causado pela cena, Stella não tinha observado que as feições do menino estranhamente aparentavam tranquilidade.

O legista, que estava quase indo embora, surgiu correndo. Os policiais deram passagem, e ele se abaixou diante do corpo — aproximadamente 14 horas — disse ele após usar um termômetro para medir a temperatura do fígado.

— Bom, o menino provavelmente morreu devido ao ferimento no pescoço, mas e o homem?

— Aparentemente infarto. Pelas características do cadáver, mas isso só a necropsia vai poder nos dizer cabo Alexandre — concluiu o legista se levantando.

Renato, Samara e Stella continuaram ali por um tempo procurando por evidencias. Um pedaço de fita vermelha balançando amarrado em um galho de árvore chamou a atenção da investigadora que rapidamente pegou um saquinho para coleta de evidencias, não se esquecendo de antes fotografar sua descoberta. Ela então o coletou e o guardou. Eles continuaram procurando por mais meia hora, mas não encontrando mais nada, acabaram voltando para a o prédio da polícia civil.

— É sempre muito difícil — disse Stella após os três entrarem na sala — já estou trabalhando nisso há um bom tempo, mas ainda me incomoda de maneira muito peculiar a agressão a idosos e crianças.

Os três investigadores se olharam por um instante.

— Descarregue as fotos que você tirou no computador para podermos analisá-las — Renato pediu.

Os três olharam todas as fotos, mas não encontraram nada que não houvessem visto na cena. Pelo depoimento do zelador também não descobriram nada que já não soubessem. Restava então procurar pelos parentes dos dois mortos. Do homem foi fácil encontrar, pois ele estava com a carteira com os documentos dentro do bolso de traz de sua calça. Mas o menino seria preciso esperar que alguém comunicasse o desaparecimento de uma criança com suas características para que pudesse ser feita a identificação. Eles então começaram com o que tinham. Samara, Renato e Stella foram até a casa do homem, que agora sabiam que se chamava Geraldo.

— Bom dia — disse Renato assim que a porta da casa se abriu.

— Bom dia — respondeu uma mulher de cabelos pretos e não muito compridos.

— Meu nome é Renato. Nós somos da polícia civil e queríamos lhe fazer algumas perguntas — ele disse enquanto os três mostravam suas credenciais para a mulher.

— Claro, podem entrar — a mulher respondeu.

— Sr.ª Mara. Eu sou Stella e ela é Samara — disse Stella prosseguindo com as apresentações — qual foi a última vez que a senhora esteve com seu marido?

— Ontem à noite, por volta das oito horas quando ele saiu para procurar nosso filho que foi jogar futebol com os amigos para estrear sua bola nova, e ainda não havia voltado.

— Tem alguma foto recente do seu filho?

— Creio que sim, Samara — a mulher se levantou e logo voltou com uma foto do garoto.

Os três se entreolharam perturbados. Renato então prosseguiu — Sr.ª Mara poderia nos acompanhar até a delegacia por gentileza.

— O que aconteceu com meu bebê?

— Tudo leva a crer que o filho da senhora é o garotinho que foi encontrado morto atrás de um campinho de futebol. Assim como seu marido — declarou Stella.

A mulher empalideceu.

— A Senhora está passando mal? Quer que chamemos um médico?

— Não precisa meu rapaz — as lágrimas desciam sem controle pelo rosto da mulher.

Neste instante uma garota de pelo menos 20 anos surgiu na sala.

— Tudo bem mãe?

— Minha filha — ela soluçava — esses policiais estão dizendo que seu pai e seu irmão foram encontrados mortos.

A garota também ficou pálida e abraçou a mãe.

— Vamos filha. Pegue minha bolsa. Temos que ir a delegacia. Espero que seja um engano. Que seu pai e seu irmão não estejam lá — a voz de Mara saiu falhando.

Os agentes saíram da casa junto com a mulher que os seguiu de carro com a garota ao volante. Eles levaram a mulher e a filha até o IML. Ao pararem o carro em frente ao prédio, Renato desceu e levou as duas para fazer o reconhecimento dos corpos. Samara e Stella ficaram no carro.

— Sabe uma coisa que me veio agora... — Samara ficou olhando para Stella esperando que ela completasse seu pensamento — o menino saiu para estrear sua bola nova — ela continuou — não me lembro de ter visto nenhuma bola na cena do crime. Será que os amigos dele levaram embora?

— Vamos ter que perguntar isso às crianças.

Elas ficaram olhando para a porta do prédio até que viram Renato sair acompanhando mulher e filha que choravam muito. As meninas então saíram do carro e foram ao encontro dos três. Vendo que a filha parecia um pouco mais calma que a mãe, Samara pediu a ela os nomes dos amigos do garotinho que estavam com ele para prosseguirem com a investigação. A garota deu o nome de cinco colegas, todos aproximadamente da mesma idade do menino e que estavam com ele na tarde da última quarta-feira. Os três então voltaram para a delegacia, ligaram para as famílias das crianças e esperaram elas chegarem. Todas vieram acompanhadas de um adulto responsável.

As crianças foram divididas em grupos, sendo que Renato e Samara iriam conversar com duas crianças e Stella uma. Ela então entrou na sala de interrogatório número 02, onde já havia uma criança com sua mãe. A agente mostrou uma foto do menino morto que tinha conseguido com a mãe dele quando foi a sua casa.

— Oi. Meu nome é Stella, e eu gostaria que você me dissesse... — ela olhou o nome do garoto em um papel sobre a mesa — Bruno, você conhece esse menino?

— O Mauricio. Conheço. Ele é meu amigo.

— E ontem você e outros meninos foram brincar juntos?

— Fomos. O Mauricio ganhou uma bola nova e a gente foi estrear. A gente chegou no campo lá perto de casa um pouco depois do almoço e ficamos lá até perto de cinco horas.

— Ele foi embora com vocês?

— Não. Já tava quase ficando escuro, e a gente já tava quase indo embora quando apareceu um homem que falava engraçado querendo brincar.

— Brincar com vocês? De que?

— Ele disse que tinha um saco de balas pra gente. Mas que só ia dar pra quem aceitasse um desafio, só que ele queria desafiar um por um e o Mauricio foi primeiro. Como ele demorou pra voltar achamos que ele tinha ficado com as balas só pra ele e então fomos pra casa.

Em outra sala, Samara conversava com outra criança. Um menino da mesma idade de Mauricio.

— E seu coleguinha foi embora com você?

— Não moça. Apareceu um homem alto que falava enrolado oferecendo bala pra gente. Como eu não falo com estranhos, eu fui embora.

— Esse moço falava português?

— Era português, mas enrolado.

Na terceira sala, Renato conversava com outro menino.

— E como era esse estranho? — Perguntou ele ao garoto.

— Ele era grande e tinha o cabelo loiro enrolado.

— Você conseguiria reconhecer o moço se vir ele de novo?

— Acho que sim.

— Se a gente pedir isso você faz?

— Não! — interrompeu a mãe do garoto que o acompanhava.

— Mas, minha senhora, vocês vão contar com toda proteção que polícia pode oferecer.

— Sei, eu acredito — disse a mulher em tom de deboche — se vocês não puderem obrigar, ele não vai identificar ninguém. Senão daqui a alguns dias vou ser eu a mãe que perdeu o filho para o maníaco.

— Bom, senhora, nós não podemos obrigá-la. Mas quando acharmos o homem se você permitir que seu filho o reconheça isso vai encurtar o caminho dele até a prisão.

— Me liguem quando encontrá-lo... Se encontrarem — a mulher se levantou da cadeira — vamos filho — a mulher retirou um cartão da bolsa e entregou a Renato — se precisar falar comigo ligue para o meu advogado — dizendo isso virou de costas e saiu.

Cerca de meia hora depois, os três agentes já haviam terminado com as perguntas as crianças. As respostas não variaram muito. Algumas ainda falavam do jeito esquisito do homem falar enquanto mais duas disseram ser capazes de reconhecê-lo e deram algumas características do suspeito. Diferentemente da mãe do primeiro menino que confessou ser capaz de reconhecer o suspeito, as mães destes dois garotos só se mostraram apreensivas quanto à possibilidade de seus filhos terem que fazer o reconhecimento, mas concordaram em deixá-los fazer.

— O que nós temos? — perguntou Samara após os três lerem as respostas que tiveram de cada criança.

— Um homem loiro de cabelos cacheados que fala mal o português — respondeu Renato.

— Acho que posso estar enganada, mas vamos pra nossa sala.

— O que houve Stella?

— Acho que conheço alguém com essas características Samara. E que tem perseguido crianças.

Os três subiram até sua sala e Stella foi logo se sentando atrás do computador. Samara e Renato se puseram de pé atrás dela. Ela digitou algumas palavras e logo surgiu na tela uma matéria sobre um criminoso que havia matado três crianças.

— Faz um tempinho que eu venho acompanhando as notícias da polícia internacional também. “Tudo que a polícia de Las Vegas tem dele é um retrato falado feito por uma criança que sobreviveu. Ela foi salva por um cachorro que se soltou da coleira enquanto passeava com seu dono” — ela leu. — “Especula-se que o assassino tenha se assustado e a criança saiu correndo antes dele terminar o que havia começado. Infelizmente o homem a quem o cachorro pertencia, não percebendo quais eram as intenções do homem, já que a criança não estava mais no local, foi pedir desculpas pelo comportamento de seu cachorro e acabou sendo morto. Como o comportamento deste serial killer já vinha sendo acompanhado por algum tempo pela polícia, acredita-se que ele tenha parado de atacar por esta mudança radical em seus planos onde pela primeira vez um adulto foi morto. A polícia de Las Vegas segue com as investigações e pede a qualquer um que tenha informações que possam ajudar na captura do: “assassino dos brinquedos”, entre em contato”.

— Assassino dos brinquedos? — Renato perguntou querendo confirmar a informação.

— É que das três crianças que ele já matou, sempre roubava um brinquedo. A polícia achou os objetos roubados em uma casa alugada pelo assassino.

— E eles não têm mais informações sobre este homem? — Samara perguntou.

— Provavelmente sim, mas não divulgaram para imprensa. Além disso, apesar da crueldade envolvida no caso, ele é local. E como as mortes pararam a polícia federal não entrou nas investigações o caso foi dado como não resolvido — Stella respondeu.

Os três se entreolharam.

— Temos que contar para o chefe assim nós poderemos contatar a polícia de Las Vegas — disse Samara.

— Não estou levando muita fé que ele vai concordar com a gente — Renato continuou.

— Só tentando vamos saber.

Os investigadores saíram de sua sala em direção ao escritório do chefe deles. Ao chegar lá, por sorte César tinha acabado de sair de uma reunião e estava com a manhã livre. Renato, Samara e Stella contaram ao seu chefe sobre suas especulações.

— Vocês podem sustentar o que estão dizendo? Se comunicarmos a polícia de Las Vegas e não for o mesmo caso seremos motivos de piada — César, um homem de meia idade, de cabelos pretos curtos e olhos cor de mel, parecia titubeante.

— Sei como estão as coisas chefe. Mas nesse caso acho que deveríamos arriscar. Eles podem ter informações preciosas sobre este homem que nós não temos — Stella defendeu.

— Vamos fazer o seguinte então. Vocês reúnam a maior quantidade de informação que nós temos sobre nosso caso e as resumam em inglês. Eu vou ligar para o escritório dos investigadores em Las Vegas e vou passar essas informações por fax. E vamos deixá-los decidirem se é o mesmo caso.

Os três agentes acenaram positivamente com a cabeça e saíram da sala, satisfeitos pela conquista. Em cerca de uma hora estavam de volta com cinco folhas com os detalhes que tinham do caso e duas com fotos do local do crime. Entregaram-nas a César e foram para sua sala.

— Acabei de lembrar-me de uma coisa... — Samara e Renato já conheciam esse habito de Stella  então somente esperaram ela dar continuidade a sua frase — eu mencionei nos papeis que entreguei ao chefe sobre aquela fita vermelha, mas não a processei ainda. Vou para o laboratório fazer isso.

— Tudo bem. Mas você não prefere almoçar antes? Já são uma e meia — disse Samara.

— Nossa já é tudo isso? — exclamou Stella olhando para o relógio do seu celular.

— Já. Eu e o Renato vamos naquele restaurante aqui perto. Vem com a gente.

— Vão indo que depois encontro vocês lá, Samara.

— Stella...

— Vão, podem ir. Depois eu almoço.

— A gente vai trazer pra você. Pode ser o de sempre?

— Pode. Eu vou pra nossa sala depois de terminar com a evidência.

Samara olhou para a amiga e sorriu. Ela e Renato então se viraram para o local onde estava o elevador para que pudessem pegar dinheiro para o almoço em sua sala. Para não ter que esperar eles subirem para depois descer, Stella foi para o térreo usando as escadas. O laboratório era uma grande sala que ficava na parte posterior do primeiro andar do prédio. Havia dois microscópios, um computador com impressora e scanner, um tanque para teste de balística e alguns utensílios que permitiam analise de digitais. Evidencias como DNA sangue e outras substâncias orgânicas e inorgânicas tinham que ser levadas a laboratórios credenciados para que fossem feitas as análises.

Stella acendeu a luz que iluminou metade da sala. Ela se sentou atrás de um balcão onde estava um pote com pó para análise de digitais e um filme plástico transparente levemente adesivo para retirar a digital. Depois de retirar a digital, ela foi para o computador e a escaneou e mandou imprimir. De posse da folha, ela apagou as luzes do laboratório e foi à sala de seu chefe.

— Mais alguma coisa sobre o caso Stella?

— Você já enviou as folhas que nós te entregamos César?

— É... — Ele hesitou — não.

— Porque não?!

— Você não acha realmente que eles perderiam tempo com a gente.

— Nós é que estamos perdendo tempo enquanto ficamos aqui parados sem fazer nada. Você ao menos ligou?

— Ainda não — ele respondeu — você vai ter que concordar comigo que o simples fato de características tão comuns estarem presentes nos depoimentos de crianças assustadas não torna nosso suspeito o mesmo que o deles. E o que vocês disseram nos relatórios sobre roubo de brinquedos, o que parece ser uma marca do assassino? Vocês encontraram algum vestígio de que ele roubou um brinquedo da vítima?

— A bola de futebol. Página três. Você realmente leu nosso relatório?

— Claro que li, não seja insolente. Eu não vou ligar para os investigadores a menos que você tenha mais alguma coisa a acrescentar.

Stella entregou a folha que carregava ao seu chefe.

— Consegui essa digital em uma evidência que recolhi na cena do crime.

— Bom isso muda um pouco as coisas. Podemos enviar a digital a eles e se coincidir, nós enviaremos o caso. Mas é provável que a polícia federal aqui do Brasil também queira participar das investigações.

— Eu sei. Espero que não nos tirem o caso... — Stella resmungou.

— Disse algo?

— Não.

— Bom, então eu vou ligar.

César teve que fazer algumas ligações até conseguir o telefone do distrito policial de Las Vegas. Mas logo conseguiu e após passar algumas informações à mulher que atendeu ao telefonema recebeu as instruções e o número do fax e para enviar as informações aos responsáveis pelo caso antes dele ser dado como não resolvido, que na época eram os investigadores Sara Bradley e Gregory Anderson.

Após ver que tudo havia sido enviado, Stella saiu da sala de seu chefe e foi para a sala de número 42 onde encontrou seus amigos que já haviam almoçado. Eles haviam trago comida para ela junto com uma latinha de refrigerante. Enquanto almoçava, ela contou aos amigos o que César havia feito. Quando estava quase terminando, o telefone da sala deles tocou e Samara atendeu. Era a secretária de César.

— O chefe quer nos ver. Agora. A Marta falou que é urgente.

— Será que temos o mesmo suspeito de Las Vegas? — Stella se levantou rapidamente da cadeira em que estavam, e os três foram correndo a sala de César.

Ao chegaram à secretária os fez entrar e fechou a porta logo atrás deles. César estava no telefone e a julgarem por sua aparência devia ser alguém importante.

— Sim senhor Jason. Claro. — Ele dizia em um inglês fluente, porém, pouco exercitado — a propósito, os investigadores já estão aqui. Vou passar para Stella, que foi quem processou a digital na fita.

César tirou o fone do ouvido e tapou o local por onde entra a voz com a mão — Stella, o supervisor dos investigadores quer falar com você. Por favor... Essa é uma grande chance nossa de mostrar eficiência — Stella assentiu positivamente com a cabeça de forma lenta e pegou o fone das mãos de seu chefe.

Ela respirou profundamente e começou a conversar em inglês com o homem do outro lado da linha — Alô. Senhor Jason. Sim. Fui eu — ela respondia as perguntas do investigador — encontrei balançando amarrada em um galho de árvore perto de onde encontramos o corpo.

— Acho que estamos com o mesmo suspeito. Eu e os dois agentes que eram encarregados do caso estaremos aí no mais tardar, amanhã à noite. Obrigada pela cooperação de vocês — dizendo isso o homem desligou o telefone.

— Então. O que ele disse? — César perguntou colocando o fone no gancho.

— Eles vão fazer de tudo para estar aqui, no mais tardar, amanhã à noite.

— A digital bateu com o caso deles? — Renato perguntou.

— Ele vai passar a digital pelo AFIS, mas foi a fita vermelha que fez com que ele percebesse que estamos com o mesmo caso.

— Provavelmente é a assinatura do assassino — concluiu Samara — não há nada sobre isso na internet, não é?

— Não. Acho que foi por isso que eles ligaram os casos. Deve ser uma informação que só a polícia sabe.

— Bom. Agora esperamos — disse César.

— Agora investigamos. Isso sim — disse Stella — vamos conseguir o máximo que pudermos para ajudar.

— Você está bem achando que vai trabalhar com eles, não é? Pois vou te dizer uma coisa. Ninguém vai ligar para o que você achou ou vai achar. Os federais vão assumir o caso e os investigadores de Las Vegas nem vão se importar.

— Ache o que quiser chefe. Eu vou continuar investigando.

— Façam o que quiserem enquanto o caso ainda é de vocês. Eu tenho que ligar para a polícia federal. Eles vão providenciar tudo para a vinda dos investigadores — César pegou o telefone — agora se me dão licença.

Samara, Stella e Renato saíram da sala do chefe. Quando chegaram a sua sala, Samara resolveu ligar para o IML para saber das necropsias e descobriu que já estavam terminadas. Os três então mais uma vez, se dirigiram para o IML. Ao chegarem lá, foram direto para sala de necropsia onde encontraram o Dr. Túlio sentado atrás de sua escrivaninha lendo alguns papéis. A sala tinha duas paredes cobertas até o teto por geladeiras em forma de gavetas para guardar os corpos e uma mesa de exames no centro.

— Boa Tarde Dr. Túlio — disse Samara que foi acompanhada por um aceno de cabeça em cumprimento de Renato e Stella — você já tem o resultado dos exames?

— Este homem — disse o legista puxando uma das gavetas — morreu de infarto fulminante. Hora da morte, nove da noite — o legista se aproximou de outra gaveta e a puxou — o menino morreu devido a um corte profundo no pescoço que rompeu a carótida provocando sangramento intenso até a sua morte às cinco e meia da tarde.

— Obrigado Túlio — disse Renato.

— Bom, vocês já me conhecem há algum tempo. E dadas às circunstâncias eu analisei minuciosamente o pós-morte desse garoto, e percebi que não há nenhuma marca de luta. Mesmo sendo tão pequeno o garoto deveria ter tentando se defender. Estou suspeitando que ele tenha sido drogado. Então mandei o sangue para análise. Fica pronto amanhã de manhã — Túlio entregou um papel para Stella — eu vou liberar os corpos para o enterro — continuou o legista.

— Pode liberar. Acho que eles já nos disseram tudo que podiam — Samara concluiu.

Os três saíram do IML e seguiram novamente em direção ao prédio da polícia civil onde trabalhavam. Ao chegarem, foram direto para a sala deles.

— A gente não pode ficar esperando ele matar mais alguma criança. Tudo indica que não foi nosso assassino quem matou aquele homem, a morte foi natural — disse Renato abrindo a porta para as meninas passarem de fechando-a depois de entrar.

— Ele provavelmente enfartou depois de ver o filho morto — Samara continuou.

Os dois olharam para Stella esperando por algum comentário da amiga, mas ela estava olhando para um e-mail que eles haviam recebido.

— Olhem isso — ela disse se afastando para que eles também pudessem ler o e-mail — o chefe quer falar com a gente. Já até imagino o que seja. Estamos fora do caso.

— Bom, vamos lá para sala dele. Às vezes não é isso — disse Samara sendo seguida pelos outros dois investigadores.

Ao vê-los, a secretária de César logo os fez entrar.

— Investigadores, tem alguma coisa sobre o caso que eu não sei? — ele perguntou girando sua cadeira em direção à porta enquanto os agentes entravam. Os três sentiram um frio no estômago com a pergunta tão incisiva.

— Não há nada que você não saiba — Samara respondeu.

— Muito bom. Amanhã cedo os federais vão chegar e eu vou ter que passar tudo para eles.

A sensação de frio na barriga foi substituída por indignação.

— Nós mesmos podemos passar o que sabemos a eles — disse Stella.

— Não. Vocês vão estar ocupados com outro trabalho amanhã. Os federais vão assumir tudo e trabalhar junto com a equipe de Las Vegas. Vou passar tudo para eles, e espero que resolvam isso rápido. Temos que mostrar uma boa imagem “lá fora”.

— Não pode nos tirar do caso! Fomos nós que começamos a investigação. Ninguém concordaria com isso! — Renato ficou consternado e tinha o apoio das duas investigadoras.

— Por isso que eu quero saber de todos os detalhes. A partir de agora fui eu quem começou a investigação. Vocês estão dispensados por hoje. Logo depois, claro, de coletar evidências nessa loja na Rua Halfeld. É o novo caso de vocês. Houve um assalto lá hoje à tarde.

— Assalto?

— É Stella. Agora vão embora. Ainda tenho que ligar para os hotéis da cidade. Temos três investigadores de Las Vegas para hospedar.

Samara pegou o caso sobre a mesa do chefe e os três saíram.

— Bom, temos um serviço antes de ir pra casa — disse Renato.

Os três passaram pela sala deles para pegar seus casacos e bolsas e seguiram para o centro da cidade. A loja estava fechada. Eles então entraram por uma porta lateral. A área dos caixas estava muito bagunçada. De repente ao fundo da loja um objeto caiu da prateleira. Stella foi caminhando em direção de onde tinha vindo o barulho enquanto os outros dois investigadores ouviam o gerente da loja.

— O vídeo mostra uma grande confusão na hora que o caixa foi furtado, mas não mostra quem roubou, nem mesmo fugindo da loja. A única coisa que sabemos é que foi o ladrão que provocou a confusão gritando a palavra fogo.

Stella percebeu que uma das estantes de prateleiras estava um pouco fora do lugar. Ela então acabou de afastá-la.

— Seria esse garoto aqui? — ela perguntou ao encontrar um jovem que tinha algumas notas caindo do bolso da camisa — caso encerrado — ela disse se afastando enquanto três policiais vinham correndo para efetuar a prisão.

— É... Caso “autorresolvível” — disse Renato.

— Vamos embora. Amanhã a gente entrega o relatório — disse Samara.

— Eu levo vocês em casa.

— Eu não vou agora. Vou andar um pouco. Encontro você em casa Samara. Amanhã a gente se vê Renato.

Samara e Renato subiram o calçadão onde estavam em direção à Avenida Rio Branco, enquanto Stella seguiu lateralmente pelas galerias da cidade. Ela prestava atenção em todos os que passavam, qualquer um deles poderia ser o assassino.

Os investigadores de Las Vegas logo estariam no Brasil e certamente descobririam quem era, mas eles não viriam ajudá-los. O chefe deles os tirara o caso e a chance de terem seu trabalho reconhecido estava se esvaindo. Stella andou até se sentir exausta, quando então foi para casa. Na frente da porta de seu apartamento, que dividia com Samara, ao parar para pegar a chave, algo a fez se sentir revigorada.

Ao colocar a mão no bolso encontrou o papel que tinha sido entregue a ela pelo legista. Era a guia para poder pegar o resultado do exame do menino. Devido à pressão colocada a eles por César ela tinha se esquecido de mencionar o exame com o chefe. Agora ela tinha certeza que iria encontrar com os investigadores de Las Vegas.

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