Escuridão (Parte 02)

Essa é a continuação do conto que postei ontem. Divirtam-se! E não se esqueçam de deixar comentários! A opinião de vocês é muito importante!!

Para quem não leu: (Parte - 01)
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(Parte 02 de 03)

Já era de madrugada quando Anna acordou assustada com um barulho. Ela abriu os olhos, mas não conseguia enxergar nada, pois as velas haviam se queimado completamente e o quarto estava imerso na mais densa escuridão. Seu coração começou a bater mais forte.

— Jay — ela chamou aflita.

— Estou no banheiro — a resposta de Jared se seguiu do barulho da descarga e ele apareceu novamente no quarto com uma lanterna.

Assim que ele chegou perto o suficiente, percebeu que Anna estava um pouco pálida.

— Eu não gosto de escuro — ela justificou.

— Fica tranquila. Eu não vou deixar você sozinha — Jared colocou a lanterna sobre a mesinha de cabeceira e sentou-se em sua cama olhando para a amiga. — A gente está num lugar estranho, por isso é meio assustador. Vamos dormir em turnos.

— Primeiro você.

— Não senhora. Eu já estava acordado antes de você acordar. Você volta a dormir. Daqui a umas duas horas eu te acordo.

Anna não tentou resistir e fechou os olhos, mas um relâmpago a fez abri-los novamente e ela viu a sombra de uma pessoa que os observava através das cortinas puídas da janela.

— Tinha alguém nos observando pela janela — ela disse aterrorizada se esforçando para não gritar.

— Quando? — ele estava de costas para a janela e não tinha visto.

— Agora mesmo. Eu vi quando relampeou.

Jared se levantou e foi até lá enquanto Anna, com muito medo, o observava da cama. Ele afastou as cortinas e abriu a janela devagar colocando metade do corpo para fora, mas não viu ninguém. No entanto um relâmpago mostrou marcas molhadas de pés descalços que pareciam ser muito recentes. Pela primeira vez aquela noite, Jared sentiu medo.

— Alguma coisa Jay?

A voz de Anna tirou Jared do torpor pelo choque inicial.

— Não, — ele respondeu vacilante. Tomou fôlego e voltou a confirmar — nada.

— Você mente muito mal, — disse Anna apreensiva.

Jared deu um sorriso amarelo, fechou a janela e as cortinas e mesmo um pouco hesitante foi até o carro e pegou a arma que o pai havia lhe dado para que carregasse nessas viagens como forma de proteção. Ele nunca pensou que precisaria desse artifício. Até aquele momento. Jared voltou para o quarto e colocou a arma na mesinha ao lado da cabeceira de sua cama — nada com o que se preocupar. — Ele comentou tanto para enfatizar que agora eles estavam protegidos, quanto para tranquilizar Anna com o fato de que ele sabia usar a arma. Ela captou completamente a mensagem, mas sorriu torto para ele. Não gostava da ideia de ter uma arma ali tão perto, no entanto talvez na ocasião, fosse uma boa ideia.

(...)
Anna, — Jared chamou ao ouvido da amiga umas duas horas depois que ela havia dormido. — Acorde — ele havia acendido algumas velas para que ela não acordasse no escuro.

— Acho que peguei no sono de verdade — respondeu sonolenta. — Preciso ir ao banheiro lavar meu rosto e você já vai dormir.

Ao voltar do banheiro, Anna se espantou com algo que não tinha reparado antes. Além do cobertor que ela encontrou no armário, Jared agora estava com outro muito puído sobre o corpo além de ter vestido uma blusa de moletom com capuz que trouxera na mochila.

— Esfriou, não é? — ele comentou vendo a surpresa estampada no rosto dela.

— Sim, mas nem tanto.

Anna se aproximou de Jared e colocou a mão na testa dele e como imaginou, estava muito quente. Jared estremeceu ao entrar em contato com uma pele mais fria que a sua.

— Você vai ter que tomar alguma coisa pra baixar essa febre. Acho que tem um vidro de dipirona no meu nécessaire. Eu tomei faz uns dias pra dor de cabeça.

Anna abriu sua mochila, que havia ficado ao lado de sua cama, e começou a procurar.

— Acho que deixei lá no carro — ela comentou enquanto procurava. — Naquela hora em que eu peguei umas balas pra gente.

— Eu pego lá — sugeriu Jared.

— Claro que não! Você fica quietinho aí que eu já volto. O carro está aqui na frente.

Jared ergueu suas duas mãos em sinal de rendição. Anna sorriu para ele.

— E à propósito, você não pode se cobrir tanto assim — ela retirou o coberto puído de cima dele restando apenas o primeiro que ela colocara na cama.

— Mas tá frio! — ele reclamou.

— Prometo que com o remédio isso passa — ela colocou uma jaqueta azul marinho por cima da roupa que estava usando para dormir, pegou as chaves do carro e saiu, dando um sorriso para Jared antes de fechar a porta atrás de si. Por causa das pancadas de chuva que caíam a todo o momento, quando voltou da recepção, ela havia estacionado o carro com a porta do lado do motorista de frente para o chalé. Ela a destrancou e entrou sem fechá-la, mantendo as luzes internas do veículo acesas. Anna sentou-se no banco do carona, pois isso facilitaria sua busca, e abriu a porta-luvas retirando tudo o que havia dentro. Ela estava tão compenetrada no que estava fazendo, que não percebeu o perigo chegando.

— Achei! — comemorou segurando o vidro de dipirona, quando uma batida no vidro chamou sua atenção. Ela já se preparava para ralhar com Jared quando se deparou com uma imagem a qual nunca mais iria esquecer. De pé, ao lado da porta do carona, uma garota vestida em trapos olhava fixamente para dentro do carro. Seus olhos eram profundos e as íris amareladas. Sua pele se assemelhava a de muitos cadáveres que ela já vira nas aulas de anatomia na faculdade. Seus cabelos molhados eram negros, e metade estava grudada em seu rosto. Ela se comportava de maneira estranha, batendo a cabeça no vidro do carro como se estivesse hipnotizada.

Anna ficou afônica e congelou. O medo tomou conta dela, mas ao pensar em Jared, e no perigo que ele corria caso a garota resolvesse entrar no quarto, ela começou a se mover em direção à porta aberta do lado do motorista o mais devagar que podia e suas pernas e braços permitiam. A garota continuava do outro lado do carro batendo a cabeça no vidro da janela do carona. Anna abriu a porta do carro, saiu e fechou-a, seguindo engatinhando muito devagar para o chalé sempre olhando para trás para se certificar que a garota havia ficado ao lado do carro.

A princípio parecia estar dando certo, mas de repente não havia mais ninguém lá. O pânico tomou conta de Anna já que a única fonte de luz agora vinha de dentro do chalé através das frestas da porta e da cortina da janela e não permitiam que ela enxergasse muita coisa. Ela se levantou e avançou em direção a essa fraca fonte de luz e quase tocava a maçaneta quando sentiu mãos muito frias segurando seu antebraço com muita força. A sensação é de que o membro seria arrancado. A garota estava tão próxima dela agora que seu hálito podre fazia Anna ter náuseas. Ela tentava se livrar, mas como sua luta não surtia efeito, ela teve que gritar por Jared pedindo socorro.

Ele sentiu o pavor no grito de Anna, e sem saber o que iria encontrar do lado de fora pegou sua arma e pulou da cama o mais rápido que pode. Essa rapidez, entretanto, jogou a lanterna que ele havia deixado na mesinha de cabeceira para debaixo da cama, mas não podia perder tempo tentando recuperá-la. De arma em punho, Jared abriu a porta do chalé e viu o que estava acontecendo. O susto elevou sua adrenalina e ao invés de medo, despertou sua ira.

— Solta ela senão eu atiro — ele disse de maneira firme.

A garota não pareceu ouvir o que ele havia dito. Jared destravou a arma ainda de olho fixo em seu alvo — eu vou atirar. É meu último aviso — ele chegou mais perto das duas.

Ela finalmente soltou Anna e se virou na direção a dele, caminhando como se seus pés descalços mal tocassem o chão. Parecia farejar o ar enquanto se aproximava dele. Isso fez Anna e Jared trocarem um olhar assustado, pois os dois não sabiam o que fazer. A garota estava cada vez mais perto deles e a cena não era suficientemente clara, já que apenas a luz de duas velas que vinham do quarto iluminava os três. Além disso, só os relâmpagos que ainda riscavam o céu escuro. O tempo carregado trouxe um vento gelado que pegou de assalto os três e era tão forte que escancarou a porta do quarto apagando a chama das velas. Eles agora estavam em perigo no escuro. Por um momento, o desespero tomou conta de Anna e Jared, pois um não via o outro e eles não viam a garota. Foi o clarão de um relâmpago que trouxe alívio revelando aos dois que eles estavam sozinhos. Jared se aproximou de Anna e a abraçou.

— Você está bem? — ele se afastou da amiga e segurou suas mãos notando como estavam geladas.

Sem resposta, ele a conduziu de volta para dentro do quarto a acomodando próximo aos pés da cama enquanto reacendia as velas trazendo uma luz aconchegante para o quarto.

— Jared, vamos embora daqui — ela pediu enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto.

— Bem que eu queria Anna, mas está chovendo de novo. Estamos com o mesmo problema que estávamos no início. Não vai dar pra dirigir nessa chuva.

— Ela vai voltar Jay! E matar a gente! — seus lábios tremiam.

Depois que deixou sua arma devidamente travada sobre a mesinha de cabeceira ao lado de sua cama, Jared se sentou ao lado dela e a abraçou novamente — ela não vai entrar aqui. Prometo.

Sempre que ele a abraçava, Anna se sentia segura e protegida, mas dessa vez esse conforto não foi possível. Jared percebeu, e a beijou delicadamente na testa. Ela sentiu seus lábios quentes e quando lembrou o motivo que a havia levado ao carro, uma pontada apertou seu coração. Na confusão, ela havia deixado o vidro de dipirona cair.

— O que foi?

— O remédio Jared.

Os dois se olharam por um instante e uma coragem tomou conta de Anna substituindo o medo.

— Não deve ter caído muito longe da porta. Eu vou lá fora ver se acho.

— Eu vou com você — dessa vez ela não fez objeção que ele fosse junto.

Eles descobriram que a lanterna, quando rolara para debaixo da cama havia quebrado a lâmpada, e decidiram então carregar uma das velas para clarear o caminho. Anna colocou uma caixa de fósforos dentro do bolso de sua jaqueta para poder reacender a vela caso apagasse. Jared pegou sua arma e a manteve em punho protegendo a amiga enquanto ela ia à sua frente levando a vela refazendo seus passos. Mesmo assim ela não conseguia encontras o frasco do remédio.

— Droga, eu não estou achando — praguejou enquanto olhava debaixo do carro. — Deve ter caído mais longe do que a gente pensava — sem obter resposta do amigo ela olhou na direção onde ele havia ficado e se desesperou ao ver que além dos pés de Jared havia um par de pés descalços de frente para ele. Anna ouviu dois tiros e rapidamente se pôs de pé. Os tiros não conseguiram atingir seu alvo, e a arma havia caído de sua mão. Agora não era a garota, mas sim um rapaz igualmente estranho, magro e de olhar fixo e doentio que segurava Jared pelo pescoço.

— Solta ele! — Anna gritava enquanto arranhava e chutava o rapaz. Com o braço livre, ele a empurrou com força fazendo com que ela caísse a alguns metros de distância dos dois.

Apesar da dor quando sofreu a queda, um alívio se espalhou pelo seu corpo ao sentir o vidro do remédio por debaixo de sua mão esquerda. Ela o colocou rapidamente dentro do bolso da jaqueta e já se preparava para se levantar e reiniciar o ataque quando a mulher que havia alugado o chalé para eles apareceu atrás dela segurando uma lamparina de vidro.

— Senhora, por favor, nos ajude! Chame a polícia! — ela pediu desesperada.

— Charles conseguiu querida. Você vai ter de volta o que foi arrancado de você há tantos anos.

Anna não entendia a conversa. Não fazia ideia de quem era Charles e nem porque a mulher estava falando sobre o tal rapaz — eu não sei de onde esse homem veio, mas... — Anna começou a falar, mas foi interrompida pela garota que os havia atacado mais cedo. Só agora ela percebera sua presença.

— Finalmente mãe! O 44º! — sua voz era rouca e fria.

A mulher e o rapaz sorriram para ela.

— Por favor, nos ajude — Anna implorou. As lágrimas já escorriam pelo seu rosto, pois ela sabia o quanto em vão era aquele pedido.

— Te ajudar, minha querida? Claro! — a mulher respondeu e Anna tremeu ouvindo sua voz e vendo seu rosto tão de perto. Tudo o que Anna foi capaz de ver foi Jared ser jogado ao chão, aparentemente morto antes de sentir uma forte dor na cabeça e tudo ficar escuro.

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