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Quem acredita em Papai Noel?

Estou no café.
Venha imediatamente, se for conveniente.
Se for inconveniente, venha assim mesmo.

Annabelle riu ao ver as três frases em seu aplicativo de mensagens enviadas por seu amigo, e colega de trabalho, Felipe. Eles haviam assistido as quatro temporadas da série Sherlock da BBC na última semana, e se tornarem fãs foi automático. O plano dos dois era comprar os livros com as histórias do detetive e ler todas. Reler, no caso de Annabelle, que já havia tido contato com as histórias quando criança.

Chego em 15 minutos 😂👍

Foi a resposta dela apesar de não conseguir prever pela mensagem o que o amigo queria. Entretanto, como não tinha planos para o dia de folga, ela decidiu aceitar o convite e deixar para descobrir por que sua presença estava sendo requisitada quando chegasse ao café.

O Paraíso de Francisca

Lar é onde o bumbum descansa”, já dizia Pumba do filme “O Rei Leão”. Porém como descansar o corpo se a alma não acompanha? Francisca viveu por muitos anos aquele dilema. Amava infinitamente as pessoas à sua volta, mas não conseguia ter a certeza que recebia o mesmo sentimento em troca.

Como alguém que ama não percebe a tristeza no coração da pessoa amada? — Se perguntava às vezes.

No entanto, quando recebeu um imenso apoio da família para ir atrás de seu sonho, ela percebeu que o sentimento era real. Ficaram felizes com a felicidade dela, e para Francisca, aquilo não podia ser outra coisa senão amor.

Visão limitada

A ‘Buscando Inspiração’ ocupava um andar inteiro do prédio comercial onde estava instalada. A agência era formada por fotógrafos profissionais que usavam sua criatividade em trabalhos variados capturando e vendendo imagens para sites, folhetos, convites, colunas de jornais e organizações, governamentais ou não. Era a realização do sonho de uma fotografa entusiasta e escritora que quis reunir os profissionais e proporcionar o contado deles com os clientes, mas garantindo por conta da empresa o salário fixo e comissão por projeto.

Com paredes de vidro, o salão retangular era bem iluminado e os fotógrafos tinham à disposição várias estações de trabalho com divisória, de forma que cada funcionário possuía o próprio computador onde podiam trabalhar as imagens fotografadas. O silêncio era garantido tanto pela altura, a sala ficava no 7º andar do prédio, quanto pelo chão forrado com um carpete bege. Aquela paz, no entanto, estava prestes a ser perturbada.

— Quem realmente quer corre atrás e dá um jeito! Essa é a minha opinião!

Turista Espacial

A pequena comunidade se aglomerou na clareira no meio do bosque empunhando lanternas, velas e lamparinas ao redor do veículo recém-derrubado. Sentiam-se como heróis que haviam acabado de salvar sua pequena vila do ataque de alienígenas furiosos que tinham a intenção de destruí-los. Mas, ao contrário de sentirem-se aliviados, o que havia no rosto deles era frustração ao verem uma mulher de calça jeans, tênis e camisa branca se arrastar para fora da espaçonave.

A alienígena olhou com medo para seus captores enquanto amparava o braço direito com o esquerdo sem saber o que fazer com o enorme ferimento. O líquido de cor vermelho intensa escorria pelo corte deixando os moradores ainda mais certos de que se tratava apenas de uma brincadeira de mau gosto para zombar deles. Não era novidade pessoas virem de cidades mais populosas para encenar uma situação que os assustasse com o intuito de ganhar visibilidade na internet.

O homem mais velho foi o primeiro a cuspir no chão e virar as costas caminhando de volta para a sua casa na tentativa de evitar a neblina fria que começava a cair. Seguindo o seu exemplo, os demais moradores foram se afastando um a um sem ao menos oferecer ajuda à estrangeira ferida.

Aurora imaginou que seria deixada para morrer, mas um jovem rapaz não havia se mexido. Olhava para ela com curiosidade. Hugo estava com uma sensação estranha e inexplicável de que a criatura com a aparência de uma jovem mulher sentada de frente para ele realmente não era humana.

Ele caminhou na direção dela, e a ração da alienígena foi se arrastar alguns metros para longe dele. Aquilo fez Hugo parar onde estava.

Tradições Natalinas

As batidas na porta da frente surpreenderam os 3 irmãos que assistiam a um filme na TV da sala. Como de costume, Zephyrus, ou Zephy como prefere ser chamada, se adiantou para atender, já sabendo que William e Wendy não fariam isso. A jovem não se importava, pois geralmente era entrega de encomenda para um deles ou uma visita para ela. Ao abrir a porta ela descobriu se tratar da segunda opção.

— John! — ela abriu um sorriso ao ver o namorado parado na soleira da porta. — Não estava esperando sua visita. Pelo que entendi você ia passar o Natal em casa...

— Eu tentei, eu juro que tentei — o desânimo estava evidente no rosto dele.

— O que aconteceu? Ele bateu em você de novo? — perguntou ela preocupada conhecendo tratamento desumano que o jovem adulto recebia em casa.

— Não, — um pequeno sorriso apareceu no rosto de John. — Durante o Natal ele é um exemplo de inspiração para todos — ironizou. — Aguentei o máximo que consegui, mas não vou fazer o papel de filho problemático de pais esforçados.

— Se você vai ficar com a gente, não é melhor entrar logo? — gritou William do sofá que dividia com Wendy. — Está caindo neve dentro de casa.

John e Zephy olharam para baixo e perceberam os delicados flocos embranquecendo o chão e seus pés. Os dele calçados enquanto os dela, descalços.

— Como ele sabe que eu vim pedir abrigo? — perguntou o jovem entrando enquanto a namorada fechava a porta.

Casual

No último dia 16 de novembro foi o aniversário de 13 anos do Universo Invisível, e apesar da pouca visualização e escassos comentários que recebo, nunca quis desistir de vez desse cantinho onde deixo extravasar minhas mais variadas ideias. É verdade que já abandonei o blog algumas vezes, nem sempre é possível superar a desmotivação, mas eu sempre volto e o meu Universo Invisível me acolhe como uma velha amiga.

Na postagem de hoje, um texto sem muita pretensão. Apenas um instante da vida de alguém. Os personagens não receberam nome deixando para quem ler imaginar, se assim desejar, a identidade de cada um. Espero que gostem!


Ela acordou na cama de casal e percebeu que estava sozinha, mas sabia que ele ainda estava por perto, afinal, era a casa dele. Um ator famoso. Seu coração acelerou só de imaginar, e sentir o lençol branco sobre seu corpo completamente nu a fez dar uma risadinha. Sabia que sentira a culpa mais tarde. 

Ela não achava certo tal comportamento, não desejava aquele tipo de vida e nunca havia feito nada igual na vida. Mas também nunca havia voado de avião, viajado para fora do país, visitado um set de filmagem e nem mesmo conseguido chamar a atenção de um homem que tivesse despertado seu interesse.

Almas Gêmeas

Espero que vocês não tenham acreditado quando eu disse aqui que a história de Catarina e João começaria e terminaria em uma única postagem... bem... lá vamos nós de novo. Espero que vocês gostem dessa conversa entre a dupla.

A tarde estava amena, com o sol de outono aquecendo o corpo numa intensidade agradável, e o chá servido na mesinha redonda branca de ferro sobre o gramado no quintal dos fundos, de frente para a floresta, deixava tudo ainda mais perfeito.

Catarina e João estavam um de cada lado dela, reclinados sobre as espreguiçadeiras de madeira cobertas com almofadas envoltas num tecido de estampa floral de algodão, costuradas pelo próprio lobisomem. A bruxa havia se oferecido para fazer o serviço usando magia, mas ele gostava de trabalhos manuais.

— Você acredita em almas gêmeas? — perguntou João repousando a xícara do jogo de porcelana que ele havia comprado para ela sobre o pires antes de pegar um dos sanduíches de atum com cenoura.

Bebida e comida preparadas por ela usando magia tanto para acelerar o processo quanto para divertir o amigo.

O tempo que os dois viviam juntos permitia esse tipo de diálogo sem qualquer desconforto, mas a espontaneidade da pergunta inesperada fez Catarina sorrir. A mulher sentou e cruzou as pernas em posição de lótus com os pés ocultos embaixo dos joelhos e ficou olhando para o líquido vermelho dentro da xícara enquanto pensava no que responder.

— Depende do que você considera alma gêmea — disse ela por fim, olhando para o amigo à sua direita.

O Último Suspiro 2

O fim de tarde com o por do sol jogando seu brilho alaranjado nos abraçava, mas o sentimento que compartilhávamos não era tão dourado quando aquele cenário. Estávamos juntos há quase um ano. Entendíamos um ao outro como ninguém mais. Porém, nem toda aquela cumplicidade nos deixava livres de tomar uma decisão difícil de vez em quando. Uma em que nós dois sairíamos indubitavelmente feridos.
 
Nossos olhares se encontraram timidamente. Ambos sem saber por que tínhamos que chegar àquele ponto. Depois de tantos meses, tantas conversas sussurradas ao ouvido, precisávamos tomar uma decisão antes que a escuridão dominasse o parque já quase sem frequentadores. 
 
Apenas os poucos pássaros, à procura de uma árvore onde dormir, seriam as testemunhas. Isso era bom, mas não tirava o peso da escolha difícil. Era muito amor envolvido. Eu duvidava da possibilidade de encontrar nova companhia equivalente ao que estávamos vivendo. E tenho certeza que era recíproco. Considerávamo-nos almas gêmeas.

Havíamos trazido de tudo para o encontro planejado, menos um item que tornaria mais fácil aquela questão. Uma faca. Sem o objeto precisaríamos usar as próprias mãos e o desfecho não seria benéfico para nenhum de nós. Talvez apenas para os pequenos animais ocultos pela grama.

A mulher sem memória

Dando continuidade as cenas que venho postando aqui no blog, essa de hoje é um pouco tensa, mas está mais para hurt/comfort e como é bem leve, não vejo motivo para restrições ou necessidade de aviso de gatilho. Fiquem à vontade para ler, divirtam-se e não deixem de comentar!

Mesmo com o início de tarde monótono, William não demonstrava o menor sinal de estar entediado. Muito pelo contrário, ele estava animado e já era a terceira vez que o detetive particular olhava pela janela. Acomodado em sua poltrona seu amigo, John, acompanhava a movimentação dele.

— Está esperando alguém? — sua curiosidade havia atingido o limite.

— Nossa próxima cliente — William afastou a cortina mais uma vez e olhou para a calçada. — Só não entendo por que ela está demorando tanto para subir.

— Está hesitando? — John levantou e caminhou na direção da janela.

— Não, — respondeu o detetive confuso. — Ela está sentada na frente do gradil perto da porta.

John tomou o lugar do amigo para olhar a possível cliente.

— ELA ESTÁ COBERTA DE SANGUE! — gritou o homem irritado.

— Eu notei isso — William não parecia abalado. — Mas daqui não consegui definir se é dela ou não.

Quando o detetive terminou de falar olhou para onde John estava, mas ele já havia saído da sala e descia as escadas.

Manter o foco

Eu pensei muito se deveria ou não publicar essa cena e acabei decidindo publicar. No entanto, dessa vez, preciso fazer o contrário do que geralmente faço e pedir para que algumas pessoas não leiam. Não é uma cena com a descrição de nenhum evento traumático, mas há dois personagens conversando superficialmente sobre assuntos muitos delicados: automutilação e suicídio.

Minha dúvida se deveria publicar ou não era exatamente por conta do fato de algumas pessoas serem mais sensíveis a certos assuntos. Eu inclusive. Dessa vez vou entender perfeitamente quem decidir ignorar essa postagem e procurar por outra aqui no blog. Imagino que deva haver algo que você ainda não leu.

Para quem resolver ler a cena, volto a reafirmar que não há descrição do que aconteceu. O evento está no passado da personagem que tenta levar a vida e, se possível, se livrar de um hábito prejudicial do qual não se orgulha.

Lembrem-se sempre: o CVV, Centro de Valorização da Vida, presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (nos mais de 120 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail.

Primeiro Encontro

Na minha postagem mais recente declarei a vontade de “desenvolver a habilidade para escrever histórias curtas, sem continuação...” então, falhou... *risos*. E antes que eu comece a criar vários enredos para tumultuar minha gaveta com trabalhos que não vou desenvolver, mas se quiser pode, resolvi mudar a estratégia.

Vou criar cenas independentes, usando para isso meus próprios personagens em situações que provavelmente não apareceriam nas histórias principais. Seja por não acrescentar nada na trama, por eu ter viajado demais durante o projeto, por ter passado tempo demais pensando “e se”... enfim. Meus objetivos são desenvolver minha escrita e me divertir, e acho que dessa vez vai funcionar.

Como usarei personagens das minhas histórias autorais e das fanfics, algumas alterações serão feitas principalmente quanto aos nomes, tanto para evitar infringir direitos autorais de terceiros, quanto para evitar spoilers do que ainda não publiquei. Quando for o caso de alguma cena remeter a uma história autoral já finalizada, e não tiver spoiler, deixarei o link dela para quem quiser ler.

Dito isso, vamos à cena e resolvi estrear com uma que eu nunca escrevi, uma desonra para mim, desonra para quem escreve fanfic, uma desonra para sua vaca... Um primeiro encontro básico na Starbucks, porque, quem nunca? Os personagens que vou usar aqui vieram de uma fanfic e algumas horas pensando “e se...”. Bom, esse é o resultado. Espero que gostem e não deixem de comentar!

A conversa dos irmãos fluía animada até que uma das gêmeas percebeu um rapaz loiro dentro da cafeteria olhando fixamente para o trio. Em vez de ficar incomodada, ela se sentiu impelida a ir falar com ele.

— Ele está olhando pra gente — alegou a jovem sentada à esquerda da irmã gêmea fraterna do lado oposto da mesa onde estava o irmão, um ano mais velho, das duas. — Vou provar.

Zephyrus fingiu que bocejava e o rapaz a três mesas de distância não conseguiu se controlar e imitou o gesto.

Chá para dois

É um desejo antigo meu desenvolver a habilidade para escrever histórias curtas. Raramente algo que eu escrevo termina em um só capítulo. Quando comecei com fanfics da série Sherlock, minha primeira oneshot foi publicada com 2 capítulos! (Quem quiser ler: O melhor pior dia de Molly Hooper). No entanto não desisti e consegui uma oneshot de verdade algum tempo depois! (Leia aqui: Tudo sobre Mary). Inspirada por essa conquista e com a ajuda de um site gerador de enredo aleatório (não quis correr o risco de tentar eu mesma criar a história e acabar com uma série de livros... hahaha...), nasceu esse pequeno conto de um momento da vida de dois personagens. Não estou planejando continuação. Sei que a vontade de saber mais sobre o que aconteceu acaba aparecendo, mas por enquanto a narrativa sobre Catarina e João começa e termina nessa postagem.

Chá para dois

Catarina olhou para o livro mágico em suas mãos e ficou preocupada. Não poderia deixar ninguém ler suas páginas. Não que alguém fosse capaz de acreditar nas informações contidas nele, mas era melhor não correr o risco.

A bruxa caminhou até a janela admirando as gotículas de chuva no vidro. Catarina gostava do ambiente rústico e aconchegante daquela rua pavimentada em pedra, mas a loja de reparo de guarda-chuvas e eletrodomésticos em frente à sua casa, quebrava parte do encanto.

Ela sorriu para o idoso parado à entrada quando este olhou para ela. Um sujeito simpático e o único motivo pelo qual ela não odiava por completo aquela fachada repleta de quinquilharias. Era um lugar que encorajava sua tendência de se sentir nostálgica, mas ela prometeu que nunca mais poria os pés na sua antiga vila e pretendia cumprir a promessa.

Então ela viu algo ao longe, ou melhor, alguém. João era um lobisomem inteligente, de braços peludos e dedos finos, companheiro da bruxa desde quando tentaram queimá-la viva. Igualmente menosprezando pelos outros habitantes, João se tornara amigo de Catarina no momento em que a bruxa se ofereceu para preparar uma poção do sono evitando que seu lado lobo o dominasse na lua cheia.

O que motivava todo aquele ódio e unia os dois era a falta de vontade de ambos para atacar seres humanos. Catarina e João não queriam negar ou abandonar suas habilidades mágicas, mas tampouco queriam usar aquilo para dominar os não mágicos. Tudo o que queriam era uma vida anônima e tranquila.

Meu verdadeiro País das Maravilhas

O país dos sonhos não tem nome nem é limitado geograficamente, mas ele existe, disso tenho certeza, só precisamos encontrá-lo, como Sophie encontrou o dela.

O telefone toca.
— Alô — atende a mãe de Sophie.
— Mãe! Oi!
— Oi! Tudo bem com você, filha?
— Tudo ótimo, mãe! E com você?
— Estou bem, mas estou com saudade...
— Ahh... Desculpe-me por não estar aí com você.
— Não se preocupe com isso. Você está feliz?
— Muito, mãe!
— Como são as coisas aí?
— Maravilhosas, mãe! Aqui não faz o calor que fazia aí em casa e outro dia até nevou. Ah, e as pessoas! São tão agradáveis. Tenho vários amigos, mas eles não ficam me convidando para festas todo final de semana. Ao invés disso nos reunimos na segunda-feira na hora do almoço para comentar sobre os livros que lemos no final de semana ou dos filmes que assistimos. Algumas vezes vamos todos juntos ao cinema. E, ah, mãe, como as pessoas aqui são educadas. Ninguém ouve música alta demais para não perturbar os outros, mas por mim podiam ouvir. Todos aqui gostam de música clássica ou das trilhar sonoras instrumentais dos filmes. Algumas vezes eles ouvem rock também. Aqui não preciso me preocupar com meus ouvidos — Sophie sorriu.
— Você conseguiu um lugar para morar?
— Consegui sim, mãe! É um apartamento bem pequeno, mas como estou morando sozinha, não tem problema. Tem um quarto, banheiro, cozinha e uma sala com estantes repletas de livros. Muitos deles presentes dos meus amigos.
— E o coração? Como está?
— Cheio de felicidade, claro!
— Então você está namorando?
— Ai, mãe, não. Mas tenho meus amigos, os livros, liberdade...
— Mas você sempre tudo isso aqui, não teve?
Sophie ficou calada por alguns instantes. Precisava pensar na resposta. Não queria magoar a mãe que além de parecer não conhecer muito bem a vida que a filha levava antes, nunca tinha percebido o quanto ela era infeliz, fazendo um enorme esforço para se levantar da cama todas as manhãs e ainda assim agradecendo a Deus a vida que tinha.
— Sempre tive mãe. A diferença é que antes tudo isso estava preso dentro dos livros, agora está livre do lado de fora.
— Filha...
— Sim mãe.
— Quando você volta pra casa?
Parece que a mãe de Sophie não tinha ouvido uma palavra sequer da conversa ou não queria aceitar o que ouvira.
— Um dia mãe. Prometo que eu volto.
— Te amo filha.
— Também Te amo mãe.
Sophie desligou o telefone. Soltou um grande suspiro. Sentou-se na poltrona da sala e abriu um livro.

O Último Suspiro

Eu não sei como chegamos a esse ponto. Depois de tantos meses, tantas conversas sussurradas ao ouvido e agora eu tinha que decidir o que fazer. Seja lá qual fosse a decisão, estaria acabado, não haveria volta. 

Não sei se conseguiria fazer a escolha sozinho. Eu te amo profundamente, mas outra pessoa que eu também amo está em jogo; eu. Sei que parece egoísmo, mas nessa situação eu tenho que pensar em mim também. Droga! Porque tínhamos que chegar a esse ponto? 

Espero que não me arrependa da decisão que tomarei, mas sou eu ou você. Porque eu não trouxe uma faca? Estar apenas com essa embalagem plástica nas mãos deixava as coisas piores. Mas não havia mais tempo para arrependimentos. 

 — Amor... — chamei com a voz mais tenra que podia estando tomado pela dor da decisão que acabara de tomar. — Pode comer o último suspiro, depois a gente compra mais! 

 

Assustados?
Alguém adivinhou sobre o que se tratava a decisão difícil antes do final?