O sinal que faltava

Muita coisa aconteceu nas vidas de Gregory e Stella desde que se conheceram no Brasil durante a primeira investigação internacional dos dois. Ambos não haviam completado 30 anos quando um assassino em série uniu as polícias de Las Vegas e Juiz de Fora para acabar com a trilha de sangue deixada pelo homem que atraía crianças para a morte. Caso resolvido, Greg, sua parceira, Sara, e o chefe dos dois, Jason, voltaram para os Estados Unidos deixando um convite para Stella se juntar a eles.

Meses mais tarde, era ela quem viajava para uma experiência trabalhando fora do país. Foi quase um ano e vários casos resolvidos até que a turbulenta noite da cidade estadunidense que nunca dorme a fez sentir saudade da relativa paz que tinha em sua cidade natal no interior de Minas Gerais. Com a promessa que voltaria para visitar os amigos que fez na equipe de peritos e investigadores de Las Vegas, Stella retornou ao Brasil.

A amizade prosseguiu à distância, até o dia que recebeu um chamado ao qual não pôde ignorar. A noite agitada da cidade havia feito uma vítima, dessa vez entre os peritos. Um dos seus melhores amigos, Greg, precisava dela. Stella estava ansiosa para encontrá-lo, mas gostaria que tivesse sido em uma situação melhor. Assim que deixou as malas no quarto do hotel, ela foi direto para o hospital sem saber como funcionava o sistema de visitas e se precisava ser da família para entrar, mas preferiu descobrir aquilo quando chegasse.

A verdade é que foi mais fácil do que ela imaginava. Ao ver seus documentos e perceber que a mulher era policial e inclusive já havia trabalhado em Las Vegas, Stella foi encaminhada para o quarto onde estava o amigo. O último no final de um corredor bastante iluminado. Ela bateu à porta duas vezes e seu coração acelerou quando recebeu a permissão através da voz conhecida que adorava ouvir. A mulher girou a maçaneta e entrou no quarto surpreendendo o amigo.

— De todos os lugares onde imaginei que a gente fosse se encontrar, esse, com certeza, era um dos últimos da lista — disse ela com um sorriso.

— Você considerou até mesmo o necrotério? — Greg se virou na cama para ficar de frente para a amiga e correspondeu o gesto.

— Com nosso trabalho, era até mais provável. — Ela deixou a bolsa que carregava sobre o ombro esquerdo em uma cadeira ao lado da cama e se sentou sobre o leito perto do amigo ansiosa por acolhê-lo em um abraço. — Como você está? De verdade — perguntou ao ouvido dele.

— Melhor agora — sussurrou ele de volta correspondendo abraço com cuidado para não deixar o escalpe de soro em sua mão escapar.

A mulher relaxou os braços e se afastou um pouco para olhar o amigo nos olhos. O rosto dele estava com alguns cortes, mas nenhum parecia muito grave. Havia também hematomas em todas as partes visíveis para fora do fino cobertor verde que o ocultava da cintura para baixo. Stella levantou a mão e acariciou os cabelos castanhos dele, há muito tempo sem as mechas loiras que ele usava quando os dois se conheceram, e Greg sorriu com o carinho.

— Você ainda vai ficar muito tempo aqui? — quis saber ela.

— Acho que no máximo amanhã devo sair. E você?

— Adiantei minhas férias, pelo menos metade delas, tenho 15 dias livres.

— Não se animou em voltar de vez para cá?

Ela franziu as sobrancelhas enquanto seus olhos percorriam o amigo ferido e o quarto de hospital.

— Estou gostando de levar uma vida tranquila — respondeu por fim.

— Parece uma boa ideia… — Ele soltou o corpo sobre os travesseiros.

— Posso ver com meu chefe se tem uma vaga pra você — sugeriu ela.

Greg suspirou antes de continuar.

— Não sei mais se quero continuar trabalhando para a polícia. — O homem tombou a cabeça para a esquerda.

— Isso foi bem traumático pra você, não é?

— Acho que não exatamente. Serviu mais como um aviso pra eu repensar minha vida.

— Greg, a gente tá mais perto do 40 do que dos 20, mas ainda falta um pouco até o momento da crise — ironizou ela.

O homem sorriu com a brincadeira, mas não era a primeira vez que tinha aquele pensamento. Não de uma crise pessoal, mas a vontade de mudar de vida.

— Você acha que consegue viver sem investigar? Solucionar crimes é tão bom!

— Eu sei, Sherlock, — ambos riram, pois ocasionalmente citavam o detetive quando se referiam um ao outro e seu gosto por desvendar mistérios. — Mas acho que consigo encontrar outros tipos de enigmas pra resolver.

— Posso tentar te ajudar com isso, se você quiser, claro — ofereceu ela.

— Óbvio que eu quero — mais uma vez um sorriso iluminou o rosto dele.

— Mas se não é minha entomologista forense favorita! — exclamou o homem que havia acabado de entrar no quarto.

— Jason! — Stella se levantou e caminhou até o ex-chefe para saudá-lo com um abraço.

— Faz tempo que está em Vegas? — Os poucos cabelos grisalhos dele tinham se multiplicado desde o caso que resolveu no Brasil.

— Acabei de chegar — respondeu ela de pé na frente dele. — Deixei minhas coisas no hotel e vim ver como o Greg estava.

— Com certeza bem melhor do que quando chegou — afirmou Jason. O homem parecia realmente aliviado com a recuperação do colega de profissão e amigo.

— O que vocês não me contaram? — perguntou a mulher novamente sentando na beirada da cama.

— Não fui eu quem respondeu as primeiras mensagens que você enviou — admitiu Greg.

— Quem?

— A Sara, — revelou ele. — E eu não discordo da decisão dela, apesar dela ter dito que agiu por impulso.

— Por quê?

— Depois que eu dei entrada no hospital fiquei um tempo inconsciente…

— Um dia inteiro — informou Jason com um tom grave de voz. — E levou mais dois dias para voltar a consciência plena. No começo eram apenas frases desconexas.

Stella ficou em silêncio tentando assimilar o que tinha ouvido.

— Quando a gente voltou a se falar?

— Anteontem — respondeu Greg.

— Como eu não percebi? — A mulher estava se sentindo um pouco constrangida com aquilo.

— A Sara acompanha as nossas conversas há tempos, estou sempre falando com ela sobre você — respondeu Greg segurando a mão direita da amiga sobre o colchão. — E os anos de profissão ensinaram algumas coisas. Eu li o que ela escreveu. Tudo muito breve e genérico.

— Achei que era porque você estava com dor, ou algo assim.

— Ela estava contando com isso — afirmou Greg. — Perdoa a gente?

— Não com raiva de vocês. — Stella enfim sorriu. — com vergonha.

Os dois homens sorriram.

— Por que não quiseram me contar gravidade do que aconteceu?

— Contei pra eles que você andou tendo crises de ansiedade… — revelou Greg.

— E a gente preferiu esperar até ele estar mais estável pra te contar — continuou Jason demonstrando que o plano havia sido idealizado em conjunto. — Acabou que ele mesmo conseguiu fazer isso.

— Eu teria vindo antes… pra cuidar de você.

Greg apenas sorriu e acenou com a cabeça deixando claro que não tinha dúvidas sobre aquilo.

— Pode fazer isso agora — continuou o homem mais velho. — Você está de licença até o médico te liberar para o trabalho — ele olhou para o funcionário. — Me informei com ele e descobri que você vai ter alta amanhã.

— Que ótimo! — A mulher se animou.

— E você vai fazer checkout no hotel, — avisou Greg. — Tem espaço suficiente no meu apartamento pra você ficar.

— Não quero te incomodar — comentou Stella.

— Tá aí uma coisa que eu acho impossível você fazer — afirmou ele com convicção.

— E se eu me esforçar bastante? — brincou ela.

— Nem assim — Greg sorriu.

A mulher acenou em positivo com a cabeça e um sorriso largo.

— Então a gente se encontra mais vezes — avisou Jason. — O resto do pessoal vai ficar feliz em ver você — continuou ele. — Agora tenho que ir, o turno começa daqui a pouco. Precisa de ajuda amanhã, Greg?

— Se alguém estiver disponível para uma carona até meu apartamento. Vai ser melhor do que ir de táxi — pediu ele. — Mas se não for possível, não tem problema.

— Isso é fácil de arranjar — garantiu Jason. — Vou falar com o pessoal e combinamos quem vem.

— Obrigado — Greg sorriu.

O homem mais velho se despediu dos dois e saiu do quarto. Stella e Greg se olharam cientes de que passaram perto de nunca mais poder apreciar a amizade que compartilhavam. A mulher queria saber os detalhes do que havia acontecido com ele, mas esperaria até as coisas se acalmarem um pouco mais. Ela se aproximou do amigo repousando a cabeça sobre o peito dele e, em resposta, Greg a envolveu com os braços e apoiou o queixo sobre os cabelos dela.

O investigador tinha muito no que pensar, principalmente no que queria fazer dali pra frente em relação não apenas a sua carreira, mas toda a sua vida. No momento tinha apenas uma certeza. O valor das amizades que havia conquistado e quanto aquilo lhe fazia bem.


E então, gostaram desse pequeno conto? Ele foi escrito mais para localizar meus dois personagens que foram criados para a fanfic de CSI Las vegas, Laina e Greg, e trazê-los para fazer parte do meu grupo de personagens originais com histórias que se passam no Brasil. Espero trazer mais sobre eles em breve! Com muito mistério, investigação e pão de queijo!

Para ler Esconde-esconde, a primeira história com os peritos de Las Vegas investigando um crime no Brasil, mais precisamente em Minas Gerais, acesse:

6 comentários:

  1. É a terceira vez que tento comentar. Rsrsrs. O conto deixou um gostinho de quero mais e me fez pensar se existe uma possibilidade de romance entre Greg e Stella.

    Abraço,
    www.oguardiaodehistorias.com.br

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    1. Oi Samuel, ah, tem dias que o blogger tira pra irritar mesmo. Eu sempre copio o que acabei de responder antes de clicar em 'publicar' só pra não ter que escrever de novo.

      Fico feliz que tenha gostado. Eu tenho umas ideias para essa dupla, provavelmente um casal (?), mas a minha ideia com eles é usar para escrever contos curtos aqui no blog. Meio que um treino de escrita mesmo para histórias policiais.

      Abraço;

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  2. Oi, Helaina! Gosto bastante de ler suas histórias. Quando você terminá-los poderia publicar na Amazon, assim um público maior de leitores conheceriam suas histórias, que aliás merecem serem lidas por mais pessoas. Um abraço!

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    1. Oi Luciano, eu não tenho muita motivação pra publicar na Amazon porque acabarei com tão pouca divulgação quanto aqui. Se fizer isso, prefiro que seja por intermédio de uma editora que terá interesse pessoal em vender o livro para obter lucro. Além disso, esses personagens estou escrevendo apenas como treino dentro de um gênero (policial). Provavelmente as histórias deles continuarão apenas por aqui. Abraço!

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  3. Hum, estou gostando do rumo da história. Manda mais que queremos saber no que isso vai dar
    Passando para agradecer por vc voltar ao meu blog em 2023.
    Depois de um longo hiato, retomei o meu cantinho como parte do meu tratamento para TAG e Depressão e foi muito bom poder contar com suas visitas e comentários.
    Espero continuarmos a nos falar em 2024.
    Que Deus seja presente no seu novo ano e que 2024 seja um ano de paz, saúde e conquistas para todos.

    Bj e fk c Deus
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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    1. Fico feliz que você tenha gostado! Ano que vem provavelmente vai ter mais!
      Também espero que continuemos assim em 2024 e que você se sinta cada vez melhor!
      Que Deus te abençoe! Desejo o mesmo em dobro pra você!
      Beijos;

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