Praga (Parte 5)

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Praga

(Parte 05 de 07)

— Parece que nós ficamos sem quarto essa noite... — Jared comentou quando chegaram de volta ao hotel depois de saírem do pub.

— Eu é que não vou entrar para atrapalhar — Anna sorriu. — Você está com a chave do carro.

Jared verificou nos bolsos — estamos com sorte. — Ele tirou o alarme da SUV. Anna abriu a porta do lado do carona, e entrou. Jared entrou do lado do motorista.

Eles chegaram os bancos para trás para ter espaço para as pernas e deixaram os vidros fechados por causa do frio.

Jared ligou o rádio. Um rock dos clássicos começou a tocar em volume baixo.

Depois de um tempo ele quebrou o silêncio — acho que eu te devo uma explicação, não é?

— Sobre o que?

— Meu comportamento em relação ao Daniel com a Lucy.

Anna se virou no banco para ficar de frente para Jared. Ele tirou o blazer e jogou no banco de trás. Depois também se recostou de frente para Anna.

— Eu cursava administração na Universidade da Pensilvânia, mas não estava feliz. Então simplesmente abandonei a faculdade, peguei o carro que papai tinha me dado e saí viajando. Fiquei um ano fora e quando voltei, ele não estava nada feliz com o que eu tinha feito — Jared cruzou os braços sobre o peito. — Acho que ele estava com medo de que eu me transformasse em um “boa vida” que só gastasse o dinheiro dele e pior, que levasse Daniel nessa loucura comigo. Na época ele ainda devia ter uns 15 anos — ele fez uma pequena pausa.

Anna acompanhava atenta sem interromper.

— Assim que voltei pra casa, ele vendeu meu carro para cobrir os prejuízos com a faculdade que eu larguei e a condição para que eu pudesse morar de novo com eles era que eu arrumasse um emprego. Trabalhei em uma rede de fast—food e em uma loja de departamento até que papai comprou o café. Quando comecei trabalhando na cozinha, mas com o tempo, papai foi recuperando a confiança em mim e eu cheguei à gerência. Não voltei para a faculdade, mas frequentei uma escola noturna de educação técnica em administração e me graduei. Não com as honras de uma faculdade, mas com conhecimento suficiente para gerenciar o café.

— Isso explica muita coisa — Anna comentou. — Inclusive sobre seu pai não querer mais ninguém largando a faculdade.

Jared deu um sorriso tímido — eu agi por impulso. Podia ter conversado com meu pai, trancado a faculdade por um tempo e viajado tranquilo. Por isso não queria que Dan fizesse as coisas por impulso. É sempre bom pensar pelo menos um pouco antes de tomar qualquer decisão. Seja ela qual for. Acho inclusive que eu sou o culpado por ele não ter ganho um carro quando conseguiu ser aprovado na universidade.

Anna ajeitou uma mecha de cabelo que caía pela testa de Jared — entendo seu ponto de vista, mas o Daniel vai ter que cometer os próprios erros para aprender. O importante é que você continue do lado dele.

— Estarei com certeza — ele deu um largo sorriso. — Mesmo quando tiver que dormir no carro porque meu irmão está no quarto do hotel com uma garota — ele olhou para a porta do quarto que continuava fechada mesmo depois das luzes terem sido apagadas.

Anna olhou para a porta do quarto — fazer o que, né?

Ela tirou as botas e reclinou o banco do passageiro. Jared sorriu e também descalçou os sapatos reclinado o banco do motorista em seguida.

(...)
Na manhã seguinte, Jared acordou com o sol atravessando o para—brisa e batendo nos seus olhos. O rádio ainda tocava baixinho. Ele reparou que seu blazer estava jogado sobre seu corpo. Imaginou que fora Anna quem o colocara sobre ele já que não se lembrava de ter feito isso. Ele se levantou e saiu do carro sem acordá-la.

(...)
Daniel acordou com o som de batidas na porta do quarto. Como Lucy Anne ainda estava adormecida entre seus braços, ele a acomodou com cuidado sobre o travesseiro onde ele estava deitado e se levantou da cama. A pessoa que esperava do lado de fora bateu novamente. Ele vestiu sua calça jeans, pegou a camisa que havia ficado aos pés da cama e seguiu em direção à porta abotoando os botões.

— Jay, — o brilho do sol o impedia de abrir completamente os olhos — que horas são?

— Eu sei que é cedo — Jared olhou para dentro do quarto pela fresta da porta que Daniel havia aberto. — E pelo visto você não dormiu bem — ele deu um sorriso maldoso. — Mas o caso é urgente — preciso ir ao banheiro.

Daniel riu — espera um pouco. Vou acordar a Lucy.

Ele fechou a porta e deixou o irmão esperando do lado de fora. Alguns minutos depois ele o chamou para entrar. Jared nem deu atenção à Lucy, cumprimentando—a apenas com uma aceno de cabeça.

Alguns minutos depois outra batida na porta. Daniel e Lucy trocaram um olhar e ele foi até à porta. Era Anna um tanto assustada. Assim que Daniel abriu um pouco a porta ela passou fechando—a em seguida.

— Tudo bem, Anna? — Daniel perguntou.

Eles ouviram um barulho de descarga e pouco tempo depois Jared também estava no quarto. Anna ainda estava assustada com as costas contra a porta.

— O que aconteceu? — Jared perguntou.

Anna se desencostou da porta e foi até a janela abrindo a cortina.

— Santo Deus — Jared chegou para o lado para que seu irmão pudesse ver o estacionamento.

Depois que seus olhos se acostumaram com a claridade, Daniel ficou atônito com a quantidade de moscas do lado de fora. Era quase impossível encontrar um espaço livre dos insetos. Parecia uma nevasca, mas com neve preta.

— Acha que essa passa como as outras? — perguntou Lucy se juntando a eles.

— Espero que sim — Daniel a acomodou sobre seu peito e cruzou os braços na frente dela. — Senão vai ficar difícil irmos a qualquer lugar.

Os quatro ficaram contemplando a cena. Por sorte, como era cedo não havia muita gente na rua evitando assim que o estrago fosse maior.

Anna foi a primeira a se separar do grupo. Ela pegou uma calça jeans, uma camiseta branca com listras pretas, um moletom e foi para o banheiro. Saiu depois de uns quinze minutos e calçou um par de meias limpas e seus All Stars.

Depois os irmãos também resolveram trocar de roupa. Lucy teve que ficar apenas com vontade de fazer o mesmo. Como não tinha voltado para o alojamento para pegar suas coisas não seria possível. Anna ofereceu a ela uma muda de roupa, mas ela recusou.

Demorou pelo menos duas horas até as moscas se dissiparem. Enquanto esperavam, discutiram qual seria a melhor coisa a fazer e chegaram a conclusão que deveriam ir até a fazenda onde os fenômenos tinham acontecido anos atrás. Mas precisavam descobrir onde ficava a fazenda e o único jeito de fazerem isso seria pesquisando nos arquivos de imóveis da prefeitura.

— Como vamos entrar na prefeitura? — perguntou Daniel se afastando da janela. Jared, Anna e Lucy estavam sentados nas camas.

— Pelos fundos. Com certeza — Lucy sugeriu. — Mesmo sendo domingo as câmeras de vigilância na porta da frente logo nos entregariam.

— Isso vai ser perigoso — Anna comentou. — Se formos pegos teremos que dar muitas explicações.

— Tomaremos cuidado — disse Lucy. — Além do mais, a chance de ter alguém na rua domingo tão cedo debaixo dessa chuva é bem remota.

— Chuva? — perguntou Jared.

— Chuva de uva-passa — ela comentou rindo.

Jared sorriu de volta.

(...)
— Entre na próxima rua a direita Jared — Lucy Anne instruiu. — Depois a segunda à esquerda — ela estava no banco de traz da SUV com Daniel. — Pare o carro onde achar melhor — disse ela em uma rua deserta, bem arborizada e com poucas casas.

Jared estacionou embaixo de uma das árvores atrás de um carro esporte.

— Ali é a entrada dos funcionários — disse Lucy Anne apontando para uma porta em um prédio de dois andares.

Os quatro desceram do carro.

— Ainda falta um detalhe. Vamos precisar arrombar a porta sem ninguém ver — Daniel comentou enquanto eles atravessavam a rua em direção ao prédio.

— Não vamos não — Lucy Anne separou uma das chaves do seu chaveiro. — Pelo menos meu ex-namorado vai servir pra alguma coisa. Ele foi estagiário aqui na prefeitura, e às vezes, em dia de jogo, pedia que eu viesse registrar horário no cartão dele.

— Você sabe aproveitar o lado bom de coisas ruins — Daniel comentou.

— Não tem jeito melhor de viver — ela respondeu enquanto um clique indicava que a porta estava aberta.

Eles entraram, sempre olhando em volta para ver se alguém os vigiava. Quando o último passou, Lucy Anne trancou a porta. O corredor, onde eles estavam, era grande e com o chão coberto por um piso de madeira que já havia a muito perdido seu brilho. O quarteto andou guiado pela garota, passando ao lado de várias portas à esquerda e à direita, até que chegaram a um grande hall. Era a entrada da prefeitura. As portas de saída estavam trancadas, como era de se esperar. Lucy os levou a subir uma escada de madeira e entraram na primeira sala à esquerda, no corredor do segundo andar.

A sala era bem grande. Com muitos arquivos atrás de um longo balcão que dividia a sala em duas. Na parede da direita, grandes janelas traziam luz ao local, mas como as cortinas estavam fechadas, eles tiveram que acender iluminação artificial provida por várias lâmpadas frias dispostas aos pares pelo teto. Eles passaram para o outro lado do balcão e se separaram para procurar mais rápido pelos registros de imóveis.

— Não tem um computador onde possamos procurar esses registros não? — Anna perguntou.

— Eles estão começando a informatizar agora e com certeza os arquivos mais antigos ainda não entraram no sistema — Lucy respondeu.

— Faz sentido — Anna concordou.

Os arquivos estavam catalogados em décadas. Enquanto Anna e Jared olhavam os arquivos da década de 40, Daniel e Lucy procuravam informações nos obituários de 1990. Eles foram os primeiros a encontrar o arquivo de Jonas Smith, mas só continha informações pessoais e sua data de falecimento.

— Engraçado, eu conheço esse nome... — Lucy disse enquanto ela e Daniel iam andando para se juntar a Anna e Jared.

— Encontraram alguma coisa? — perguntou Daniel quando o grupo se juntou.

— Nós começamos com os arquivos mais antigos e já estamos na década de 20, mas ainda não apareceu o registro da fazenda — Jared respondeu.

— Bom, o caso no jornal foi em 1943, então o registro dessa fazenda tem que estar no meio desses anos. Vamos procurar da década de 40 para trás Lucy?

— Vamos Daniel... — Lucy ainda estava pensando no nome do fazendeiro.

Os quatro continuaram procurando e se encontraram no início da década de 30.

— Encontrei — Anna tirou o arquivo da gaveta — 1931, registro de compra de imóvel em nome de Jonas Smith.

O grupo se reuniu em volta da pasta enquanto Anna passava as folhas até encontrarem o endereço da fazenda.

— Espera! Esse endereço é da fazenda do avô do meu ex-namorado — Lucy disse quebrando o silêncio. — Eu não reconheci o sobrenome de imediato porque ele tem o nome do avô paterno, e essa fazenda é do avô materno dele. Nós já fomos lá algumas vezes, mas eu nem imaginava que ele poderia ser o mesmo Jonas Smith dos ataques daquela época.

— Você lembra como chegar até lá? — quis saber Daniel.

— Lembro sim.

— Então vamos! — ele continuou.

Anna guardou o arquivo de volta no lugar e o grupo saiu animado. Só Lucy não parecia muito animada. Assim que saíram Anna e Jared seguiram para o carro, mas Daniel ficou com a amiga enquanto ela fechava a porta.

— O que foi Lu? — Daniel perguntou.

— Vocês estavam certos. É culpa minha, o que está acontecendo.

— Porque você acha isso, Lucy?

— Meu ex-namorado deve estar por trás dessas coisas. Ele me culpa por estar sozinho até hoje.

— Mas a culpa é toda dele — argumentou Daniel.

Eles foram em direção ao carro.

— Além disso, não temos certeza de que é ele quem está fazendo isso. Pode ser que o avô dele tenha recebido ajuda de outra pessoa quando aqueles fenômenos em 1943 e pode ser essa pessoa fazendo essas coisas agora.

— Vocês acham que alguém que ajudou o Sr. Smith naquela época é o responsável pelos fenômenos agora? — Jared perguntou quando os dois se aproximaram do carro.

— Lucy acha que o ex-namorado dela pode ser o responsável — Daniel explicou.

— Mais fácil. Você mostra pra gente quem é ele e o obrigamos a terminar com isso — Jared alegou.

— Não! Pode ser perigoso! — Lucy disse desesperada.

— Porque Lucy? — Daniel queria saber.

— Eu estava em dúvida, mas agora tenho certeza que aquela pickup vermelha que quase atropelou você era dele! Ele quase te matou!

— Mas não matou. Você me salvou — disse Daniel colocando as mãos no rosto da garota.

— Vamos acabar logo com isso! — Anne falou. — Se for ele ou não vamos descobrir e dar um fim nisso!

Jared abriu a porta do carro e sentou atrás do volante — concordo! Vamos logo descobrir o que está acontecendo e terminar com isso!

Anna sorriu e se sentou ao lado dele no banco do carona. Lucy e Daniel também entraram no carro.

— E lembre-se, — Daniel segurou uma das mãos de Lucy Anne — não é sua culpa.

Jared ligou o carro e foi seguindo as direções dadas por Lucy Anne.

 

4 comentários:

  1. Nossa, muito, muito legal!
    Estou adorando acompanhar sua história!
    Beijos

    Tem post novo e promoção lá no blog!
    endless-poem.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Muito obrigada!!
      Fico muito feliz mesmo que você esteja gostando!

      Oba! Vou passar lá pra ver!!
      Beijusss;

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    2. Muito legal esse conto seu. Gosto do seu estilo simples, objetivo e agradável de se ler. Tomara que você publique livros com seus contos e siga escrevendo sempre.

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    3. Obrigada! :D
      Fico muito feliz que você tenha gostado! Procuro sempre me aperfeiçoar para continuar fazendo o que eu gosto bem feito!
      Também espero conseguir publicar algo um dia!

      Bjus;

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