Autora: Marlene T. Dias
Solange estava em seu quarto quando sua mãe lhe chamou:
— Solange! Venha aqui na cozinha que eu quero que você me faça um favor!
— Ai que droga! — reclamou a garota saindo contrariada de seu quarto, pois já sabia do que se tratava.
— Eu quero que você me faça um favor. Vá ao açougue e compre 1 quilo de carne para o jantar.
E olha, é pra comprar só carne viu?!
Solange saiu em direção ao açougue, mas no caminho viu seus amigos André, Tiago e Lúcia jogando vôlei e ficou ali jogando com eles. E assim ficaram por mais meia hora até que Solange teve uma ideia.
— Vamos tomar sorvete, que hoje eu tenho dinheiro! — ela convidou. E foram os quatro à sorveteria do “seu” Henrique.
Já era noite e só tinha sobrado Solange sentada à beira da calçada chupando o ultimo sorvete quando ela lembrou que tinha de ir ao açougue, mas como se ela havia gasto todo o dinheiro com sorvete. “Você é uma irresponsável, será que nunca posso confiar em você?” Solange sabia que essas seriam as palavras da mãe acompanhadas de uma surra de cinta.
Para pensar na desculpa que daria à mãe, Solange resolveu passar por um caminho mais longo, que passava pelo cemitério Bom Jardim. E foi na frente do cemitério que ela parou assustada, pois ali mesmo perto da entrada havia um corpo de um cadáver estendido sobre uma mesa. Ela achou estranho, afinal o que um cadáver estaria fazendo ali sem estar enterrado? Mas em vez de correr para casa, Solange correu para dentro do cemitério e num ataque de loucura com uma fúria inexplicável ela começou a cortar pedaços do corpo do cadáver com a própria pá do coveiro e coloca-los dentro de um saco que levara com ela. Quando terminou ela estava tão atarantada com o que tinha feito, que saiu correndo em direção a sua casa com a roupa toda suja de sangue, mas ao mesmo tempo sentia um alívio dentro de si, afinal fugiria da surra da mãe.
Quando Solange chegou à casa, por sorte sua mãe estava no banho e seu pai ainda não tinha chegado. Ela então foi para o seu quarto. Agora não dava mais para voltar atrás, ela trocou de roupa e colocou a carne numa sacola do açougue e foi para cozinha levá-la até a mãe.
— Que demoras são essas, dona Solange? — perguntou a mãe já com a cinta na mão.
— É que eu parei pra ajudar a dona Annunciata a guardar as comprar de depois ela me chamou para tomar um chá. E a senhora sabe que quando a dona Annunciata começa a falar não para mais.
— É; eu conheço a dona Annunciata, sei como ela gosta de uma conversa, mas cadê a carne?
— Está aqui mãe — respondeu Solange entregando sacola à mãe.
— Dá aqui logo essa carne que eu estou atrasada para o jantar e seu pai já deve estar chegando do serviço. E olha da próxima vez me avise quando vai chegar tarde, porque eu fico preocupada.
— Tá bom mãe — Solange saiu da cozinha e foi para a sala assistir à novela das 7, mas a única coisa que ela não viu foi a novela, pois o que ela tinha feito não lhe saia da cabeça. Ela então resolveu ligar para Lúcia, para ver se espaireceria. Solange falou a Lúcia que não tinha comprado a carne e tinha mentido à mãe sobre dona Annunciata, mas em nenhum momento falou sobre o cemitério. Quando desligou ela foi para a cozinha ver se conseguia jantar, mas isso foi impossível.
— Solange, você não vai jantar? — perguntou a mãe.
— Não, eu não estou com fome.
— Que carne gostosa Alice, você comprou no açougue do “seu” Guilherme? — perguntou o pai de Solange que estava sentado à mesa junto com a esposa.
— Não sei, foi sua filha que comprou — respondeu Alice.
— Foi pai, foi no açougue do “seu” Guilherme. Agora eu vou dormir.
Solange foi para o seu quarto dormir, mas não conseguiu. Ela só ficava pensando no que tinha acontecido. Com a cabeça fria ela não conseguia entender como fizera aquilo, ela só pensava em voltar no tempo, voltar para o seu quarto, para aquela tarde gostosa que estava fazendo mais cedo.
Por volta das 22h00min, estava chovendo, os pais de Solange já tinham ido dormir e ela continuava rolando na cama, pensando naquele corpo despedaçado naquela mesa quando ouviu um barulho na porta da sala e ficou arrepiada. Depois ela ouviu barulhos dentro da sala e ficou ainda mais arrepiada. Depois ela ouviu barulhos pelo corredor, agora ela já tinha certeza que era o cadáver que viera buscá-la. O barulho ou o cadáver estava agora na frente da porta do seu quarto empurrando a maçaneta quando Solange deu um pulo pra cima da cabeceira da cama e deu um grito:
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
— Calma Solange, somos nós Lúcia, André e Tiago. Viemos te trazer o dinheiro que você gastou com o sorvete, afinal foi nossa culpa — disse Lúcia.
— Mas, são vocês?
— Lógico Solange! Quem você pensou que era?
— Ninguém André, ninguém. Mas me digam como vocês entraram?
— Ora, você esqueceu que eu tenho a chave da sua casa.
Sim, Solange tinha esquecido que tinha dado uma chave à Lúcia. Mas depois do medo passado todos foram para a cozinha tomar um café. Mas uma coisa não tinha sido resolvida, o crime que Solange cometeu no cemitério.
Na manhã seguinte, Solange acordou cedo, antes de seus pais, depois de uma noite mal dormida e foi pegar o jornal na porta. Quando ela abriu o jornal sentiu todo o sangue do seu corpo lhe subir à cabeça porque a manchete do jornal era: “Cadáver é encontrado despedaçado em cemitério”, mas na mesma hora que levou o susto veio o alívio com o restante da matéria, que era assim:
“Foi encontrado ontem à noite no cemitério Bom Jardim 100 quilos de carne bovina, que estava moldada na forma de uma pessoa, todo despedaçado pelo chão faltando pedaços. Essa carne seria usada em um churrasco que seria feito ali mesmo numa festa “clubber”. Foi uma maneira muito engraçada moldar a carne de boi na forma humana, mas também muita inocência deixarem a carne ali sozinha sem que ninguém a viesse pegar.” Jornal Bom Jardim.
Depois de terminar de ler Solange sorriu aliviada e prometeu a si mesma nunca mais mentir, sempre obedecer à mãe, parar de ver filmes de terror e principalmente virar vegetariana.
“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.”