Meu verdadeiro País das Maravilhas

O país dos sonhos não tem nome nem é limitado geograficamente, mas ele existe, disso tenho certeza, só precisamos encontrá-lo, como Sophie encontrou o dela.

O telefone toca.
— Alô — atende a mãe de Sophie.
— Mãe! Oi!
— Oi! Tudo bem com você, filha?
— Tudo ótimo, mãe! E com você?
— Estou bem, mas estou com saudade...
— Ahh... Desculpe-me por não estar aí com você.
— Não se preocupe com isso. Você está feliz?
— Muito, mãe!
— Como são as coisas aí?
— Maravilhosas, mãe! Aqui não faz o calor que fazia aí em casa e outro dia até nevou. Ah, e as pessoas! São tão agradáveis. Tenho vários amigos, mas eles não ficam me convidando para festas todo final de semana. Ao invés disso nos reunimos na segunda-feira na hora do almoço para comentar sobre os livros que lemos no final de semana ou dos filmes que assistimos. Algumas vezes vamos todos juntos ao cinema. E, ah, mãe, como as pessoas aqui são educadas. Ninguém ouve música alta demais para não perturbar os outros, mas por mim podiam ouvir. Todos aqui gostam de música clássica ou das trilhar sonoras instrumentais dos filmes. Algumas vezes eles ouvem rock também. Aqui não preciso me preocupar com meus ouvidos — Sophie sorriu.
— Você conseguiu um lugar para morar?
— Consegui sim, mãe! É um apartamento bem pequeno, mas como estou morando sozinha, não tem problema. Tem um quarto, banheiro, cozinha e uma sala com estantes repletas de livros. Muitos deles presentes dos meus amigos.
— E o coração? Como está?
— Cheio de felicidade, claro!
— Então você está namorando?
— Ai, mãe, não. Mas tenho meus amigos, os livros, liberdade...
— Mas você sempre tudo isso aqui, não teve?
Sophie ficou calada por alguns instantes. Precisava pensar na resposta. Não queria magoar a mãe que além de parecer não conhecer muito bem a vida que a filha levava antes, nunca tinha percebido o quanto ela era infeliz, fazendo um enorme esforço para se levantar da cama todas as manhãs e ainda assim agradecendo a Deus a vida que tinha.
— Sempre tive mãe. A diferença é que antes tudo isso estava preso dentro dos livros, agora está livre do lado de fora.
— Filha...
— Sim mãe.
— Quando você volta pra casa?
Parece que a mãe de Sophie não tinha ouvido uma palavra sequer da conversa ou não queria aceitar o que ouvira.
— Um dia mãe. Prometo que eu volto.
— Te amo filha.
— Também Te amo mãe.
Sophie desligou o telefone. Soltou um grande suspiro. Sentou-se na poltrona da sala e abriu um livro.

Feliz 2012!


O ano normalmente começa com uma sensação de esperança, de renovação. Não sei como será esse ano, nem o que esperar dele, mas posso rezar e desejar para todos nós um 2012 maravilhoso. E que quando chegarmos ao fim deste ano estejamos todos com o coração tranquilo e a certeza de que fizemos a diferença. Sejam em grandes ou pequenas coisas.

Feliz Ano Novo a todos vocês!!

Helaina Carvalho Crisóstomo

Aparência

Que péssimo, — ela praguejou em seus pensamentos. — Bem hoje eu tinha que ficar sem internet e acabar nesse lugar.

As 20 máquinas do infocentro comunitário estavam ocupadas, por isso ela precisou esperar ao lado da porta. Sobre cada uma das cinco longas mesas de madeira, havia quatro computadores com cadeiras de plástico em frente aos equipamentos.

Mariana achava ruim usar aquele lugar porque os usuários que o frequentavam aparentemente desconheciam por completo o significado da palavra comunitário e deixavam os computadores em péssimo estado ignorando que outras pessoas poderiam usá-lo.
 
Vários cartazes colados nas paredes com as normas de utilização aparentemente eram negligenciados. Esse fato foi comprovado por Mariana quando finalmente se sentou em frente a uma máquina recém-desocupada e constatou que o garoto que a utilizara havia feito um ninho de papel de bala em volta do teclado. Ela suspirou enquanto recolhia os papeizinhos para jogá-los no lixo.

Uma menina na máquina ao lado dela, que usava fones de ouvido com uma música alta tocando, sorriu em meio a um deboche enquanto estourava uma bola de chiclete na frente do rosto e colocava a goma novamente dentro da boca com os dedos para continuar mastigando.

Antes de começar sua busca, Mariana checou seus e-mails, seus perfis nas redes sociais, que nunca deixava de atualizar diariamente, e acabou se distraindo e esquecendo o objetivo que a levara até ali. Quando distanciou seus olhos por um instante do monitor, tomou um susto ao perceber quanto tempo havia passado.

A tarde havia dado lugar ao escuro da noite, e os frequentadores do infocentro começaram a mudar. Um arrepio que começou na base da coluna de Mariana logo se espalhou pelo seu corpo. Sua boca ficou seca e seus batimentos cardíacos aceleraram.

Ao seu lado não estava mais a menina mastigadora de chiclete, mas sim um homem cujo rosto ela não conseguia ver por causa do imenso capuz que compunha o agasalho que ele usava mesmo com o calor que fazia.

Na fileira de computadores logo à sua frente, um homem alto de cabelos brancos e despenteados acessava uma página cheia de fotos de animais sendo torturados.

O pânico estava tomando conta de Mariana e o desejo de ir embora dali surgiu como uma voz impossível de ignorar em seu subconsciente.

A necessidade de fazer a pesquisa a segurava ali, mas ao ver uma senhora sentada no computador ao seu lado olhando um site com fotos de moças e rapazes seminus com aparentemente a mesma idade de Mariana, a fez levantar e sair daquele lugar correndo sem querer olhar para trás.

(...)
Meia hora mais tarde, o homem que estava de casaco com capuz, pegou seus livros e foi para a aula. Mesmo com a febre causada por conta da sinusite que o havia acometido, ele não perdia um só dia. Era a sua única chance de conseguir finalmente passar no vestibular.

O homem alto de cabelos brancos e despenteados enviava freneticamente e-mails a todos os seus amigos e divulgava nas redes sociais dados sobre uma famosa grife de roupas que estava usando peles de animais em suas confecções tentando iniciar uma campanha contra ela.

A mulher continuava com os olhos no site que hospedava as fotos de moças e rapazes seminus. Ela havia recebido uma informação de que seu filho, que havia sido sequestrado alguns meses atrás, estava sendo obrigado a se prostituir em outro país em troca de moradia e alimento. A polícia estava sem esperanças de conseguir encontrá-lo, mas ela nunca desistira.

Mariana chegou em casa decepcionada por ter perdido tempo nas redes sociais e acabado não fazendo a pesquisa que tanto precisava. Teria que usar toda a sua criatividade para encontrar uma solução para o problema que tinha nas mãos. Precisaria descobrir sozinha, a melhor maneira para se livrar do cadáver de seu vizinho sem deixar rastros.

 ...
"Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera aparência."

[Poema] Além do que se enxerga

Não existe melhor estimulante do que a imaginação.
Não importa quanto café você tome,
nada pode te deixar mais desperto
do que imaginar um mundo
e criar personagens para habitá-lo.

Deus criou o mundo,
e ao final descansou,
porque é impossível
dormir em meio ao processo criativo.

Dar-lhes vida,
e certa quantidade de livre-arbítrio
para conseguir contar sua história
pode te manter acordado por horas.

Uma dádiva e uma maldição,
uma bênção e um desalento.
A única coisa que nunca conseguirei imaginar,
é como é possível viver em um só mundo,
absolutamente real e tangível.

Ensino enquanto crio,
mas também aprendo.
É um dom de poder incalculável,
que exige todo o cuidado
sendo muita força necessária para controlá-lo.

Seria muito perigoso,
se algo saísse do controle,
ou caísse em mãos mal intencionadas.

Pois, por trás de cada palavra,
há segredos individuais.
Diferentes para quem as escreve,
Diferentes para quem as lê,
Diferentes para quem as ignora.
Helaina - 13/10/2011

[Poema] Weird

I'm not different
I'm like the others
I'm a equal
She keep repeating to herself. Alone. In her world.

Why I have to be so different.
Or is the others that combined to be so look alike?


[Poema] O Romance nunca morre...

Mesmo que alguns não possam crer,
o Romance ainda é vivo,
e o será eternamente,
enquanto existir um coração disposto a acolhê-lo.

Se dois corações decidirem mantê-lo,
aí não só o Amor será eterno,
mas também a alma dos amantes que se permitiram envolver por esse sentimento.

Mais que atração física,
o Romance transcende a carne,
e pelo olhar se transmite.

Ele é calmo e acalma...
É o porto seguro para as almas atribuladas...

É o que deveriam buscar todos aqueles que um dia sonharam compartilhar sua felicidade com alguém...

Destination Unknown (Final)

Essa é a continuação do conto. Divirtam-se! E não se esqueçam de deixar comentários! A opinião de vocês é muito importante! Para quem não leu: (Parte - 03)
 

Destination Unknown

(Parte 04 de 04)

O hotel que o policial indicou para os dois ficava a uns 20 minutos do Hotel Magnólia. Era uma instalação típica de hospedagem em estradas americanas. Os homens deixaram o casal na recepção e foram embora.

Benjamin pegou sua carteira, tirou seu cartão de crédito e o mostrou para a atendente. Ela registrou um quarto de casal no nome dele e entregou uma chave com uma plaquinha com o número do quarto. Os dois saíram da recepção e seguiram para o lá. Benjamin abriu a porta e os dois entraram. O quarto era simples e aconchegante. Tinha apenas uma cama de casal, uma penteadeira com uma pequena televisão em cima e um banheiro. Ele colocou a bagagem no chão e fechou a porta.

— Aconteceu o que eu realmente acho que aconteceu? — Victoria perguntou sentando na beirada da cama e acendendo a luz de uma luminária que havia fixada à cabeceira.

— Acho que sim — Benjamin respondeu sentando ao lado dela. Ele pegou as pernas da esposa e colocou sobre seu colo. A meia-calça que ela usava, parecia uma rede de tantos buracos.

— Me lembre de nunca mais subir em uma árvore usando meia—calça — ela pediu sorrindo.

— Você se arranhou bastante — ele comentou enquanto tirava as sapatilhas dela.

— Foi quando a ventania começou. Escorreguei alguns centímetros até conseguir me segurar — ela respondeu.

— Não pude deixar de pensar em uma coisa — Benjamin comentou.

— E o que seria?

— Você se lembra daquele episódio de Arquivo X...

Victoria interrompeu o marido com uma risada — pensei a mesma coisa! “How The Ghosts Stole Christmas2 sexta temporada, um dos meus preferidos. Mas o Mulder e a Scully quase morrem.

— Verdade. Tá vendo, os fantasmas do hotel nem trataram a gente tão mal assim.

— Okay, okay. Você venceu! — Victoria sorriu. — Eu vou tomar um banho rápido antes de dormir.

— Quer companhia? — Benjamin sorriu.

— Desculpa amor, mas eu não estou pensando em demorar. Já está quase amanhecendo...

— E porque a gente iria demorar? — perguntou Benjamin.

Victoria sorriu, mas entrou no banheiro sem responder. Seu marido sorriu e balançando a cabeça.

Benjamin foi até a sua mochila e separou uma bermuda e uma camisa de malha. Depois que trocou de roupa, pegou o jornal que havia trazido do hotel. A manchete era “Amor e Cobiça no Hotel Magnólia”, e havia uma foto da fachada do hotel na primeira página logo abaixo da frase. Um pequeno texto resumia o ocorrido:

Eva Handerson, única herdeira de Gregory Handerson, foi morta na noite passada durante um assalto no hotel que herdou do pai e administrava junto com o marido Carson James. O Hotel Magnólia estava na lista dos 10 melhores hotéis da costa leste e as primeiras pistas indicam que Carson, associado com os bandidos, matou a esposa e fugiu com o dinheiro e as joias da família que ficavam no cofre do hotel”.

— Victoria! — Benjamin a chamou.

— Já estou saindo — ela respondeu. Alguns minutos depois ela saiu do banheiro vestindo uma camisola de seda na cor vermelha — o que foi Ben?

— Pelo que eu estou vendo aqui — ele sinalizou para que ela olhasse para o jornal. — A Eva era a única morta dentre todos os que estavam no hotel.

Ela parou e deu uma olhada no jornal. Depois olhou para Benjamin.

— Você não está mesmo com sono “Mulder”? — Victoria brincou.

Benjamin olhou para ela e deu duas batidinhas no espaço vazio ao seu lado na cama e sorriu. Ela se deitou ao lado dele e se aconchegou entre os braços do marido. Benjamin apagou a luz da luminária e pouco tempo depois os dois dormiam profundamente. No jornal, agora caído no chão, a foto da fachada do Hotel Magnólia e o seu triste fim.

Imagem editada.
Foto original de Peter Herrmann, disponível no Unsplash.

Nota: How The Ghosts Stole Christmas, "Como os Fantasmas estragaram o Natal" (no Brasil), roteiro e direção por: Chris Carter. É um episódio da sexta temporada da série X-File, "Arquivo - X" (no Brasil) exibida dos anos de 1993 a 2002. Fox Mulder e Dana Scully eram agentes do FBI e personagens principais da série.