Praga (Parte 2)

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Praga

(Parte 02 de 07)

Não chegou a levar o tempo todo que Jared havia imaginado. Com o trânsito bem livre, duas horas e trinta minutos depois de terem saído, eles chegaram à Ancient Meadows. Era uma cidade pequena, aparentemente pacata. Muito provavelmente se não fosse a universidade, a cidade se resumiria a poucas casas e vário moradores espalhados pelas propriedades rurais.

— Por onde começamos?

— Vou parar o carro e ligar para meu irmão.

Anna ficou observando a cidade pela janela enquanto Jared falava com o irmão.

— Ele me explicou como chegar ao hotel onde ele está.

Jared dirigiu para lá.

— Daniel! — ele anunciou descendo do carro após estacioná-lo e indo abraçar o irmão que o esperava.

— Jared — Daniel retribuiu o abraço.

— Essa é Anna. Trabalha com a gente no café. Ela veio ajudar.

Anna e Daniel trocaram um aperto de mãos.

Ele era um pouco mais baixo e mais magro que o irmão. Seus olhos, castanho claro, combinavam com seu cabelo, também castanhos. Daniel usava uma camisa de malha branca com uma camisa xadrez azul por cima, calça jeans e um par de tênis preto.

— Vamos para o quarto e eu explico o que está acontecendo. Prefiro não falar aqui fora.

Os três seguiram para o quarto onde Daniel estava hospedado. O último daquele bloco, com uma janela ao lado da porta e equipado com televisão e banheiro. Ele se sentou em uma cadeira enquanto Anna e Jared se sentaram aos pés de uma cama de casal.

— As coisas estão muito estranhas aqui nos últimos dias. Um dia estava saindo sangue das torneiras, dois dias depois o campus ficou cheio de sapos.

— Será que não foi brincadeira dos veteranos, Dan?

— Eu quase acreditei nessa teoria Jay. Mesmo só saindo o tal “sangue” no chuveiro do dormitório feminino. Mas se você visse a quantidade de sapos que apareceram no campus. Mesmo que os veteranos estivessem criando sapos, não haveria tantos disponíveis. Você sabe como o campus é grande.

— E como vocês se livraram deles?

— Estranhamente, no dia seguinte apareceram todos mortos. Tão impossível quanto aparecerem tantos sapos é alguém conseguir matar todos eles.

— Bom, eles poderiam ter sido envenenados, mas isso é realmente estranho — Jared comentou.

— Depois disso eu preferi sair de lá. E foi na hora certa. Todos os quartos estão lotados agora.

— Todos?! — Anna exclamou.

Jared olhou para ela.

— Deixa pra lá, depois a gente resolve isso. Que tal se nós formos até a faculdade? — ela sugeriu.

Os irmãos se entreolharam.

— Não sei se vocês vão achar alguma coisa lá. Mas podemos tentar — concordou Daniel.

— De qualquer forma vai ser uma boa oportunidade pro seu irmão testar o detector de espectros.

— Desde quando você tem um troço desses, Jay? — Daniel abriu a porta e saiu.

— Bem, eu... Hã?...

— Você devia assistir menos televisão, cara.

— Eu falei — disse Anna enquanto saía do quarto.

Jared saiu por último e fechou a porta.

(...)
Eles deixaram o carro no estacionamento do campus de frente à reitoria e se separaram. Anna ficou encarregada de passear com o detector pela ala feminina e os irmãos andaram pelo campus nos locais onde os sapos haviam aparecido. No entanto, todos os lugares estavam como se nada estranho tivesse acontecido na cidade por anos. O detector de espectros também não emitiu nenhum sinal. O que já era esperado por Anna, pois ela estava certa de que o amigo havia sido enganado ao comprar tal bugiganga. Desanimados, eles decidiram que seja lá o que havia estado por ali, aparentemente não estava mais. Eles então voltaram para o hotel para tentar resolver o problema em relação à falta de vagas.

Jared parou o carro no estacionamento e os três seguiram para a recepção. Eles explicaram a situação para o homem que apareceu atrás do balcão.

— Olha, tudo o que eu posso fazer é colocar uma cama de solteiro no quarto — disse o homem. Ele parecia ter saído direto do festival de Woodstock e entrado na recepção há uns 60 anos para não sair mais. — E tem uma cama dobrável meio enferrujada no porão que eu posso emprestar.

— Vocês costumam ter a lotação esgotada? — Jared perguntou.

— Não é muito normal não. Mas com os últimos acontecimentos no campus. Ninguém mais quer usar os alojamentos da faculdade.

— Você acha que o que dizem que aconteceu por lá é mesmo verdade? — Jared continuou.

— Claro que não! — o homem surpreendeu os três com uma risada alta. — Os veteranos estão tirando uma com a cara de todos e os calouros estão caindo direitinho.

Daniel saiu da recepção.

— Daqui a pouco mando alguém colocar a cama de solteiro no quarto de vocês — o homem confirmou. — Vão querer a cama dobrável também?

— Sim — Jared respondeu. Vamos precisar dela também.

O homem acenou positivamente com a cabeça.

— Como vamos resolver isso? — Anna perguntou quando saíram da recepção.

— Colocamos um lençol dividindo o quarto, você fica de um lado com a cama de casal, e eu e o Daniel ficamos do outro com a cama de solteiro e a dobrável.

— Estou sentindo que estou atrapalhando — Anna comentou.

— Engano seu — Daniel comentou. — Amigos do meu irmão são meus amigos também, e são sempre bem vindos.

Anna sorriu.

— Você não se importa de dividir o quarto com a gente não, né? — ele continuou.

— Bom, se vocês prometerem que vão se comportar direitinho...

Os três riam da observação.

— Será que a gente pode ir comer? Tô cheio de fome! — reclamou Jared.

— Hum, verdade. Já passou do meio dia — Anna concordou.

— Sei de uma lanchonete muito boa aqui perto.

— Então vamos pra lá.

A lanchonete tinha o estilo daquelas de filme dos anos 60 como muitas das casas e lojas ali naquela cidade. Esse aspecto tornava todos os lugares ali bem aconchegantes.

Os três escolheram uma mesa em um canto. Em cima dela havia uma pequena toalha xadrez vermelha e branca. Para sentar, dois bancos com assentos e encostos acolchoados, um de frente para o outro em lados opostos da mesa. Jared e Anna se sentaram em um e Daniel do outro lado, de frente para eles.

— Em que posso ajudá-los? — perguntou a garçonete que se aproximou da mesa entregando um cardápio para cada um. Ela usava uma camiseta branca e um jeans com um avental por cima da roupa.

— Um cheeseburger, com batatas fritas e uma cerveja — disse Jared.

A garçonete anotou o pedido e pegou o cardápio de volta.

— E você? — perguntou ela a Anna.

— O mesmo que ele. Mas quero um refrigerante ao invés da cerveja.

— Oi Lucy — disse Daniel que percebeu que a garota ainda não havia notado a presença dele.

— Daniel! — ela exclamou sorrindo.

— Não vai me apresentar sua amiga? — Jared perguntou.

— Ah, — Daniel sorriu — essa é Lucy Anne, ela é estagiária na biblioteca da faculdade — disse ele ao irmão. — Esse é meu irmão Jared e essa é Anna, nossa amiga — disse ele à garota.

— Prazer — ela respondeu sorrindo.

— O prazer é meu — Jared sorriu de volta.

Anna também sorriu para Lucy que sorriu de volta.

— O que vai você querer Daniel?

— Só o cheeseburger com uma cerveja.

— Pode deixar! Três cheeseburger, duas batatas, duas cervejas e um refrigerante — Lucy repetiu os pedidos conferindo se havia anotado tudo. — Já, já eu trago — ela disse antes de se afastar.

— É... ela é bonita — comentou Jared sorrindo.

Daniel apenas olhou para o irmão que sorriu com sarcasmo.

Os lanches não demoraram muito para ficar prontos.

— Aqui está — disse Lucy voltando depois de alguns minutos depois.

Ela colocou uma caixinha com guardanapos, ketchup e mostarda sobre a mesa e depois distribuiu os pedidos.

— Valeu Lucy — disse Jared.

— Obrigado — disse Anna olhando para ela.

— Porque não tira um descanso e se senta com a gente — sugeriu Daniel.

Lucy Anne sorriu e olhou para seu chefe, que estava no caixa, pedindo um tempo para descansar. Como os únicos clientes no momento eram os três, ele respondeu afirmativamente e ela se sentou ao lado de Daniel. Ela era tão magra e alta quanto Anna, mas seus cabelos eram pretos e lisos e seus olhos eram de um castanho mais escuro, quase pretos.

— Estuda aqui há muito tempo? — perguntou Jared.

— Não, comecei ano passado.

— O que você estuda? — perguntou Anna.

— Ciências Biológicas.

Um barulho parecido com um toque de celular interrompeu a conversa das duas.

— Acho que é o seu — disse Lucy a Jared.

Jared, sem entender o que estava acontecendo, colocou a mão no bolso e logo silenciou o aparelho.

— Nada importante — disse ele com um sorriso amarelo no rosto.

— Você trabalha aqui todas as tardes? — perguntou Daniel.

— Só de segunda a sexta. Nos sábados faço só meio expediente e aos domingos não trabalho.

— Como faz para dar conta de todos os clientes sozinha? — continuou Anna.

— Não vem muita gente aqui durante a semana. É aos fins de semana nosso maior movimento. Aí o Chris tem outras meninas trabalhando. Somos cinco ao todo.

— No café do pai deles, — Anna indicou Jared e Daniel — onde eu trabalho, é diferente. Nosso movimento acontece durante a semana. Principalmente pela manhã.

— Você mora nos alojamentos da universidade? — perguntou Jared limpando a boca e tomando um gole da cerveja.

— Sim...

— Aquilo que dizem que aconteceu no alojamento feminino, é isso mesmo? — continuou Jared.

— Só entre a gente — Lucy Anne se aproximou mais do centro da mesa. — Que isso mão espante vocês daqui, mas aquilo na torneira não parecia ser água com corante — ela falou quase sussurrando.

— Parecia sangue mesmo? — perguntou Daniel.

Lucy Anne balançou a cabeça em afirmativa — mas já faz um mês. Não aconteceu de novo.

Um casal entrou na lanchonete.

— Tenho que ir — Lucy Anne se levantou. — A gente se vê por aí.

Eles se despediram e ela seguiu em direção à outra mesa para atender o casal.

Depois que terminaram de comer, os três pagaram e saíram da lanchonete.

— Você deixou o detector de espectros ligado de propósito? — perguntou Daniel enquanto eles andavam de volta para o hotel.

— Não Dan, eu me esqueci de desligá-lo depois que saímos do campus, mas foi só ela sentar com a gente que o detector de espectros começou a fazer barulho.

— Será que essa coisa não está com defeito? — perguntou Anna. — Se é que algum dia já funcionou.

— Bom, por via das dúvidas, quero ficar de olho nela. Sei lá — comentou Jared.

— Não acho que ela tenha alguma coisa a ver com isso — afirmou Daniel.

— Prefiro não descartar nada — continuou Jared.

— Pode deixar que eu ficarei de olho nela — Daniel se prontificou.

Jared abriu um enorme sorriso para o irmão.

— Pode ir parando, Jay.

Anna não teve o que fazer a não ser rir da situação e acompanha-los para dentro do quarto do hotel.

— Daniel, você chegou a procurar na internet algo sobre acontecimentos estranhos aqui na cidade?

— Não. Com tudo o que aconteceu acabei me esquecendo. Vou fazer isso agora — disse Daniel pegando seu notebook. Mas não demorou muito para ele desistir. A busca na internet não deu muito resultado. Ou nada havia acontecido naquela cidade nos últimos anos ou o que tinha acontecido não havia ido parar na internet.

— Leilões, festas promovidas pela faculdade, alguns simpósios, congressos... Nada, além disso. Não sei o que poderemos fazer — Daniel afastou o notebook.

— Tomar cuidado com o que ainda pode vir por aí — Anna comentou.

(...)
Algumas horas mais tarde, Daniel olhava ansiosamente pela janela.

— O que você está esperando? — quis saber Jared.

— Estou de olho para ver a que horas a Lucy vai sair. Ela mora no alojamento no campus, vou oferecer carona até lá.

— Dan, cuidado. Se ela realmente estiver envolvida nisso pode ser perigoso.

— Vou tomar cuidado Jay.

Daniel pegou seu casaco e saiu do quarto — não precisa me esperar. — Ele disse saindo e fechando a porta.

— E ele diz que eu tô inventando coisas — resmungou Jared.

— Ah, — Daniel abriu a porta — e fique longe da minha cama! Se você estiver nela quando eu voltar vai acordar molhado — ele saiu e fechou a porta novamente.

— Ele parece ter falado sério — Anna riu de Jared que fazia uma careta em direção à porta.

— Ele é o engraçadinho da família.

Anna sorriu.

— Olha Jared, se você quiser eu durmo na cama dobrável e você fica com a cama de casal.

— Não tem problema. Eu fico com a dobrável.

— Mas você é maior que eu Jay. Não vai caber nessa caminha.

— Não se preocupe. Depois que eu dormir nem me lembrarei disso.

— A propósito me esqueci de perguntar. Qual é o curso que o seu irmão está fazendo?

— Letras. Ele é apaixonado pela literatura inglesa.

— Que legal. Eu gosto de ler. Depois vou pedir pra ele me recomendar uns livros.

— Ele vai te indicar uma biblioteca inteira! — Jared sorriu.

Anna sorriu de volta.


(...)
Daniel colocou o casaco dentro do porta-malas e entrou no SUV. Ele dirigiu em direção à rua por onde Lucy Anne andava. Quando chegou perto dela reduziu a marcha do carro.

— Lucy Anne — chamou ele.

— Oi Daniel. Meio tarde pra um passeio não?

— Na verdade estou indo lá no campus. Acho que esqueci meu casaco lá.

— Então acho que você ficou sem ele — respondeu ela andando ao lado do carro.

— Bom, quero conferir isso de perto.

Ela sorriu.

— Quer carona até lá? — Daniel parou o carro e abriu a porta. Lucy Anne entrou.

Não demorou mais do que minutos até chegarem ao campus. Daniel dirigiu até o estacionamento onde Jared havia deixado o carro de manhã.

— Meio escuro aqui — ele reclamou.

Lucy Anne abriu a porta e desceu.

— Onde você acha que deixou ele?

— Bom, ficamos algum tempo sentados naquele banco conversando hoje pela manhã — Daniel apontou para um ponto na onde o farol do carro não iluminava muito bem. — Acho que tenho uma lanterna no porta-malas.

Lucy Anne ficou de pé perto do carro esperando Daniel, que começou a rir assim que abriu o porta—malas.

— Lucy Anne, você não vai acreditar — ele disse.

A garota se aproximou do porta-malas e viu um casaco azul marinho lá dentro. Ela sorriu para Daniel.

— Dan, se queria me dar uma carona até aqui era só ter oferecido.

— E se você não aceitasse?

— Você poderia insistir.

— Me sinto meio idiota.

Ela sorriu novamente — mas eu gostei. Achei muito meigo da sua parte.

Dessa vez foi ele quem sorriu.

— Aproveita que você veio até aqui e me leva mais perto do alojamento. Fica atrás da biblioteca.

Os dois entraram novamente no carro e Daniel seguiu na direção indicada por Lucy.

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